A CASA ARRUMADA
Tita
10.01.18
Nós somos feitos de um património. Mental/emocional, físico e material. Claro que nós só somos mental/emocional e físico. Digo isto porque já ouvi alguém dizer que nós somos aquilo que podemos transportar. Basicamente o nosso corpo em todas as suas aceções. Mas se não estivermos a olhar pelo prisma do transporte, nós somos o que comecei por dizer: nós também somos o que temos. Não por virtude de raciocínios ou avaliações de terceiros mas pelas coisas que a coisa nos faz. O que nos mudam os bens. Melhor, o que fazem os bens de nós.
Com exceção das pessoas que não habitam casas, as pessoas habitam casas. Assim, cada um tem a sua casa (que pode ser partilhada ou não). E para que serve a casa? Repouso, recolhimento, intimidade, refúgio, prazer, conforto, lazer.
Eu não acho que uma casa esteja desarrumada se as camas não estiverem feitas, se houver casacos pendurados em cima de cadeiras, se houver livros ou discos em cima de uma mesa de apoio, se a manteiga estiver fora do frigorífico… Antes, a casa está marcada pelas experiências humanas a que se destina. É uma casa vivida.
As casas não podem estar impecáveis. As coisas nas casas não podem estar sempre nos seus sítios. É importante que existam cabides de pé. Que é para haver alguma roupa abandonada fora dos roupeiros. Já estive em casas com o chão a brilhar. Detesto. Tenho medo de escorregar. Há também umas pessoas que posicionam definitivamente os seus objetos de décor. E eu não lhes posso tocar. Para mim tocar nas coisas é fundamental. Certa vez peguei na mão de uma pessoa e encostei à minha pele do tronco. Toquei na pessoa com a minha pele do tronco. Foi assim que decidi que haveríamos de namorar com toda a certeza.