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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

AMADURECER


Tita

28.03.18

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Venho informar que, entre os dezoito e os vinte e um, entrei num processo que sucedeu e não teve comparação com qualquer outro de antes ou depois. Tudo se baseou em vivências demasiado intensas onde as coisas muito boas, ótimas, se misturaram com eventos e vivências muito maus, péssimos. De facto, foi um período vivido em que parecia que nada era pacífico. Nada era mais ou menos ou não extremado. E, naturalmente, eu não estava preparada. Mas sobrevivi, como se nota.

 

Assim, com vinte e dois anos já era capaz de adivinhar algumas coisas: adquirira a capacidade de antecipar com base na analogia das situações da vida. Portanto, sabia fazer algumas boas projeções.

 

A dada altura, uma amiga procurou-me com o intuito de fazer o exercício do desabafo (falar de coisas relacionadas com um caso amoroso). Relatou-me alguns factos. Tratava-se de uma situação em que a outra pessoa vivia e respirava o ambiente do ciúme por si própria criado. Assim, não queria amigos, familiares ou a própria cadela da minha amiga por perto.

 

Uma vez que, além do ouvido, me foi pedida opinião, aconselhei-a a terminar tudo sem mais delongas. Conselho não seguido, obviamente. Nestes termos, em pouco tempo, a minha amiga veio a sofrer todas as consequências que eu, antes do conselho, lhe indicara. Basicamente foi traída e sumariamente deixada sem prévia notificação.

 

De vez em quando ainda lembro o ar assombrado com que, posto aquilo, a minha amiga veio ter comigo para me perguntar: “Mas como é que tu sabias?”

 

Resta dizer que o amadurecimento é um fenómeno que acontece na mesma medida que o individuo soma vivências significativas em áreas ainda não experimentadas e as sintetiza dentro de si, alcançando, assim, espera-se, um patamar superior de conhecimento sobre si próprio, os outros e a vida em geral.

 

À ESPERA


Tita

20.03.18

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Detesto esperar. Quando estou à espera sinto a impaciência a tomar-me o corpo. Prendem-se-me os braços. E parece que fico imobilizada. Deixo de fazer as coisas que não sejam as que respeitam às rotinas. Porque imediatamente começa a faltar-me a presença de espírito. Logo, a capacidade de pensar como deve ser.

 

Pronto. Estou à espera de notícias. Sobre coisas que fiz. Na verdade, são resultados. Quando esperamos resultados, colocamos tudo em causa. Pelo menos eu coloco. Tudo são as qualidades que pensávamos que tínhamos. As qualidades para o efeito. Para o efeito dos feitos que produziram os resultados que ainda estão por conhecer. E eu espero. 

 

Claro que estes processos só ocorrem atualmente porque uma pessoa, com o passar do tempo, à medida que cresce, que amadurece, perde a capacidade de ser alegre e tranquilamente inconsciente.

TU NÃO ÉS PRETA, ÉS CASTANHA


Tita

16.03.18

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Quando pequena era extremamente sensível. Sublinho o extremamente. Tudo me perturbava imenso. Tudo o que não fosse sorrisos, brincadeira e beijinhos e fosse o contrário disto tudo. Assim, um dos factos mais marcantes da minha vida foi a questão de não querer chorar. Desde muito pequena que não queria chorar. Porque tinha uma anormal dificuldade em suster as lágrimas. Lembro-me de estar sempre a fugir para não me verem chorar.

 

Sucede que quando andava na primeira classe, fui gratuitamente agredida por uma miúda da quarta. Nessa sequência, dei-lhe uma tareia séria. Acontece que depois fiquei cheia de pena dela. Por causa da humilhação que lhe causei. Afinal eu era mais pequena do que ela e toda a gente viu. Andei por longo tempo a pensar no respetivo sofrimento. Tanto que sofri com ela. Pelo menos na minha imaginação. Até tive vontade de chorar.

 

Outro exemplo, na segunda classe tinha uma coleguinha negra. A Sara. Toda a gente lhe chamava preta. A Sara tinha uma avó branca. O que ninguém compreendia. Bem, mas, para o que importa, a Sara era a minha melhor amiguinha. Logo, considerando que tinha de fazer alguma coisa por ela, disse-lhe: “não ligues ao que as nossas colegas dizem. Tu não és preta, tu és castanha, percebes?” Ela quase se desfez em lágrimas. Mas aguentou. Aguentou tanto, que me pareceu que os olhos lhe iam explodir. Fiquei sem saber o que dizer. Mas ainda disse mais qualquer coisa. Não sei o quê. O que sei é depois que resolvi calar-me bem fundo. E ela já não quis dar-me a mão para irmos para o recreio. Senti tanta pena dela! E vergonha por mim. Andei então longo tempo a sofrer. Pelo mal que lhe causei. Não sei se, até, não chorei por causa disto tudo.

 

Noutra perspetiva, tinha uma prima mais velha treze anos. O que eu adorava a minha prima! Mas, enfim, ela era uma temperamental. Portanto, às vezes gritava-me por qualquer coisa que eu fizesse. O que literalmente me desfazia. Por causa disso, ia sempre chorar.

 

Perturbava-me esta vontade inusitada de chorar sempre e em qualquer circunstância. Tinha muita vergonha. Fugia para não ser vista, como disse. Assim, andava sempre a correr em fuga. Até que não aguentei mais. E iniciei um procedimento interior para me conter. Para aprender a fazer isso. E lá consegui ao fim de muito treino e angústias. Depois não sei muito bem. Só sei que, a partir de certa altura, já queria chorar e não podia. Porque não conseguia.

 

Se não me tivesse educado naquela altura, creio que hoje seria daquelas pessoas que choram no cinema só porque um pombinho partiu uma asa no filme, por exemplo. E creio que, até aposto que, seria uma pessoa mais feliz. Porque menos tensa. Sei disto porque, quando consigo chorar, sinto-me aliviada de quase tudo. A questão é que raras vezes consigo.

 

A CRÍTICA


Tita

15.03.18

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Uma vez um amigo muito talentoso perguntou-me se eu não podia dar a minha opinião crítica sobre um trabalho que ele tinha feito e que iria sair cá para fora. Disse-lhe o que era óbvio: não estava habilitada. Mas ele respondeu-me que o que precisava mesmo era de alguém que se exprimisse apenas com sensibilidade e o devido distanciamento. “Sabes, às vezes um tipo faz uma coisa e fica todo contente e realizado. Depois, o tempo vai passando, e começamos a duvidar. A certa altura, já achamos que tudo o que fizemos é uma merda”. Enfim, lá disse que sim. Que o criticaria. E critiquei. Na verdade, gostei imenso e muito justamente de tudo.

 

Ainda gostava de perceber este processo em que uma pessoa vai do oitenta ao sessenta e oito, passa pelo dezoito e acaba no oito só porque o tempo vai andando e, claro está, porque se aproxima o momento do veredito.

 

Será que faz parte do processo de produção ou de criação viver esta espécie de estado de espírito degradativo? Talvez, se muito do que se fez se sustentou na inspiração e inerente criatividade. Embora sejam os mais prometedores, os processos produtivos inspirados e criativos não dão segurança ao seu autor relativamente à substância e à aparência do produto final e ao feed-back que há-de vir. Portanto, lamentavelmente, as pessoas inspiradas e criativas são as mais permeáveis a um certo tipo de sofrimento.

 

DE PEITO CHEIO


Tita

13.03.18

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Quando se anda de peito cheio não se anda bem. Se subimos uma longa escada, por exemplo, a certa altura, começamos a ter dificuldades em respirar. Não é que nos falte o ar. Antes pelo contrário, é porque temos oxigénio a mais nos pulmões. Assim, é preciso expirar e não, como se imagina, inspirar. Certa vez, li num livro que um certo dito louco andava pelo hospital a empurrar um carrinho de supermercado com as rodas para cima porque, segundo explicava, não queria que lhe metessem porcarias dentro do mesmo.

 

É verdade que o nosso peito pode encher-se por causa de alegrias porque nem sempre nos colocam coisas más dentro do carrinho de supermercado. Mas, mesmo nestas situações, não pode manter-se assim por muito tempo. É, como disse, por causa do oxigénio a mais. Um descuido, um abuso, e podemos ter um ataque cardíaco ou qualquer coisa do género. Por outro lado, do lado como comecei este texto, quando não é de felicidade, o meu peito também se enche, em sentido contrário, de descontentamento.

 

As razões do meu descontentamento são pessoais. São sempre pessoais. Chateio-me a sério com aquilo que faço e não faço bem. É de posicionamento aquilo de que falo. Da forma como, por vezes, às vezes sem sentir, me coloco em relação à envolvente.  Eu sei sempre de quem gosto. Já vi um monte de mal na vida para saber o que não quero, quem não quero. É um saber inicial e automático. No entanto, deixo-me ir por vezes porque simplesmente deixo ir ou, de outras vezes, pela força das circunstâncias. Não importa, para o que importa, fico desapontada comigo quando me repito nestas coisas. E o peito fica cheio quando fico assim. Então, há que expirar. Deitar cá para fora. Deitar fora. E o peito volta ao respirar normal.

 

LUCIDEZ E CALMA


Tita

01.03.18

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Hoje tinha que ir de manhã a Algés. E fui. Apanhei ali a A5 a seguir às Amoreiras. Já depois de me ter livrado das curvas por baixo do Aqueduto, apanhei uma outra mais à frente e despistei-me. A traseira do carro saiu da rota e fiz meio peão para a esquerda, virei o volante e fiz meio peão para a direita. Porém, a certa altura, o carro lá parou. Não bati em ninguém e em lado nenhum. Liguei imediatamente o carro e segui. Chegada ao destino, fiz (bem) o que tinha a fazer. Pelas onze já estava a regressar. E cheguei bem.

 

Perante o descrito, estou apreensiva. O descrito é que não tive medo. Não é normal. Não tive medo nem estou com medo de pegar no carro daqui a um bocado. Apesar do chão ainda estar molhado. Não é normal para mim. Para a pessoa que eu ainda penso que sou.

 

A pessoa que eu ainda penso que sou teria ficado a tremer no momento imediatamente seguinte ao facto. Depois, conduziria muito nervosa. E, finalmente, era capaz de acalentar dentro de mim receios para o futuro relativamente a situações em que tivesse que conduzir à chuva.

 

A verdade é que não sei exatamente o que se anda a passar comigo. Mas sei que estou feita uma pessoa que consegue ver e sentir as coisas como elas são. Subitamente (ou não), é como se já não cometesse a falta de por sal ou picante a mais na comida (ou a menos). É como se, de repente, começasse a cozinhar bem. Sem excessos e sem carências quanto aos temperos. Isto sem embargo de continuar a gostar muito de comida bem apurada.

 

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