DE PEITO CHEIO
Tita
13.03.18
Quando se anda de peito cheio não se anda bem. Se subimos uma longa escada, por exemplo, a certa altura, começamos a ter dificuldades em respirar. Não é que nos falte o ar. Antes pelo contrário, é porque temos oxigénio a mais nos pulmões. Assim, é preciso expirar e não, como se imagina, inspirar. Certa vez, li num livro que um certo dito louco andava pelo hospital a empurrar um carrinho de supermercado com as rodas para cima porque, segundo explicava, não queria que lhe metessem porcarias dentro do mesmo.
É verdade que o nosso peito pode encher-se por causa de alegrias porque nem sempre nos colocam coisas más dentro do carrinho de supermercado. Mas, mesmo nestas situações, não pode manter-se assim por muito tempo. É, como disse, por causa do oxigénio a mais. Um descuido, um abuso, e podemos ter um ataque cardíaco ou qualquer coisa do género. Por outro lado, do lado como comecei este texto, quando não é de felicidade, o meu peito também se enche, em sentido contrário, de descontentamento.
As razões do meu descontentamento são pessoais. São sempre pessoais. Chateio-me a sério com aquilo que faço e não faço bem. É de posicionamento aquilo de que falo. Da forma como, por vezes, às vezes sem sentir, me coloco em relação à envolvente. Eu sei sempre de quem gosto. Já vi um monte de mal na vida para saber o que não quero, quem não quero. É um saber inicial e automático. No entanto, deixo-me ir por vezes porque simplesmente deixo ir ou, de outras vezes, pela força das circunstâncias. Não importa, para o que importa, fico desapontada comigo quando me repito nestas coisas. E o peito fica cheio quando fico assim. Então, há que expirar. Deitar cá para fora. Deitar fora. E o peito volta ao respirar normal.