COM BASE NO INSTINTO
Cat2007
06.07.18
Lembro-me de, em pequena, estar sempre tudo a discutir lá em casa. Tudo menos eu. Por um tempo. Até um dia. Um dia estava deitada no sofá a ver televisão quando deflagrou uma altercação entre toda a gente na outra ponta da casa. Pus-me a pensar sobre o assunto, analisando a causa. Agora não me lembro o que foi. Mas sei que o motivo não era motivo para tamanho escarcéu. Indignei-me. E foi como se uma mola (que não existe) se soltasse dentro de mim. Fiquei tão irritada, que me embrenhei com todas as forças na cena. Fui para lá gritar a dizer que não havia razões para tanto grito. Claro que, ato contínuo, toda a gente se pôs a gritar comigo. A partir de então, passei a ser permeável como os demais, sendo envolvida ou envolvendo-me ou provocando todo e qualquer conflito.
Abre parêntesis. Aqui chegada, creio que importa esclarecer que não estou a falar de pessoal das barracas. Fechado o parêntesis, continuando, revelava agora que, por causas das coisas que contei, jurei a mim mesma que quando fosse grande, na minha casa ninguém discutiria.
Certa vez alguém com quem eu mantinha uma relação disse-me que os homens são mais bonitos do que as mulheres. E que, tanto assim é, que na natureza é assim. Os machos são mais bonitos do que as fêmeas. Veja-se o exemplo dos pavões e das pavoas. Eu respondi que a coisa era assim se vista do ponto de vista humano e não do dos animais. Porque estes não têm o sentido da estética mas funcionam com base no instinto. No mais, parecia-me que, mesmo no mundo dos homens e das mulheres, uma mulher bonita é mais bonita do que um homem bonito mas que, de qualquer modo, considerava que não se deviam comparar realidades incomparáveis, pelo que a questão era basicamente parva.
Daqui nasceu uma das piores discussões de que me lembro. Motivada por uma questão basicamente parva, recordo. E, malgrado a minha promessa, aconteceu dentro da minha casa quando eu já era grande.