POR IMPOSIÇÃO DO MEIO E EM VIRTUDE DA CRENÇA
Cat2007
29.03.19
Em tempos conheci uma pessoa que nem uma maçã acabada de comer era capaz de confessar. Dizia, antes, que tinha sido uma pera. Na verdade, por força de um vicio que a dada altura da vida se instalou, esta pessoa estava sempre a mentir. Mas isso era porque, ab initio, tinha os clássicos problemas de afeto. Digo que são clássicos porque há imensa gente com este handicap - com a desvantagem relativa de desejar mostrar-se pelo que possui quando, na verdade, não tem muito material de seu, sendo obrigada a dizer que tem muitíssimo mais. Lembro-me que a estória favorita desta pessoa passava por uma viagem, de ida-e-volta no mesmo dia, ao Algarve em cima de uma moto de grande cilindrada que não existia na sua disponibilidade.
Atualmente sei de outras pessoas que também estão sempre a mentir. Gente que, movimentando-se confortavelmente num meio físico e social que confere a quem o habita uma sensação de não-pertença, abdicou da sua autenticidade para nele poder entrar e viver. Assim, como disse, tais pessoas mentem. Porque, logicamente, a mentira, por imposição do meio e por virtude da crença, passou a constituir um elemento estrutural das respetivas personalidades.