VIAGENS
Tita
23.09.19
Há muito tempo que ando a informar a quem interessa que padeço de claustrofobia. De modo que toda a gente sabe que, a menos que seja inevitável, não vou de elevador, não apanho o metro, não atravesso túneis compridos e não ando em aviões pequenos. Assim sendo, passo a vida a maçar as pessoas, obrigando-as a subir escadas ou a esperar por mim, a andar de carro na Avenida da Liberdade, a enfrentar os semáforos e outros empecilhos da superfície e a fazer escalas em vários aeroportos.
Sucede que fui mesmo agora para Florença em voo direto num avião que dava para mais de cem pessoas. Não era, pois, um avião pequeno. Mas, afinal, era um avião pequeno por ser do tipo peixe-espada. Quer dizer, por ser comprido, mas demasiado estreito - ou seja, muita gente em espaço reduzido. Acresce que, logo em seguida, fui para Veneza por terra. Ou melhor, por baixo da terra. Na verdade, fui apanhada num túnel de 18 km.
Portanto, em poucos dias, vivi o paraíso dos meus piores pesadelos. E eu que, em fantasia, suspeitava de que, em circunstâncias como estas, haveria de me faltar o ar, que o corpo tremeria, que o cérebro passaria ao estado líquido e que o coração bateria demasiado depressa até parar - e depois eu morreria ou ficaria atrasada mental -, eu… bem, eu não senti nada. Medo de nada! E agora estou sem saber o que pensar.