TAMPA
Cat2007
29.01.09
Um dia estive muito carente porque acabava de sair dos escombros de um castelo de emoções meio foleiro que inventei à pressa. Estava na estrada a sacudir o pó, e apareceu por acaso alguém que foi a primeira pessoa que apareceu. Foi a primeira que apareceu, mas isso não tem importância nenhuma para o que aconteceu depois. Porque me apaixonei dolorosamente, sem esperar.
Foi uma paixão carnal sem ser altamente sexual. Foi um caso de intensidade extrema porque ocorreu uma combinação epidérmica especial. Aconteceu-me uma necessidade permanente e incontornável de encostar a minha pele naquela pele. De deixar correr a sensibilidade. E de não querer sair dali nunca. Assim os breves, porque necessários, afastamentos que ocorriam eram tão dolorosos como o ardor dos pedacinhos de pele que se arrancavam no processo.
Um dia, contra a minha vontade, e a despeito da minha necessidade profunda, a minha pele foi arrancada daquela pele. À força, totalmente e de vez. Creio que isto aconteceu porque tinha mesmo que ser assim. Não sei bem. Nem me interessa. Para o que importa, a dor do ardor ficou-me na carne pelo tempo em que aquelas feridas enormes levaram a sarar. Chorei um bocado. Por vezes choro.
Ainda hoje sinto alguns reflexos desse modo de sentir aquela dor. É natural. São as cicatrizes, feridas fechadas.
Durante algum tempo, custou-me compreender bem que este acidente foi apenas um episódio da vida que passou. E tantas paixões me consumiram depois desta!
Por outro lado, as tampas existem. Servem para tapar tachos e panelas, por exemplo. Têm uma certa utilidade. E é esta a importância das tampas na vida, se o ego não é distorcido. Concedo, no entanto, que as tampas não deviam ser atiradas quentes ou cheias de tinta plástica à cara das pessoas. De todo o modo, as mesmas pessoas também não deviam por a cara a jeito para levar com uma tampa em cheio. Seja como for, as tampas não têm interesse nenhum.
Hoje eu não invento castelos. Contruo-os. Pedra por pedra. Com todas as pedras que fui recolhendo no caminho que percorri até aqui. Os meus castelos já não são pessoas. E já não são castelos, mas só um. É a minha vida. Só apanhei pedras. Deixei as tampas. No meu castelo moro com quem amo profundamente. Ainda estamos a construir. E este sentido daquilo que deve ser comum é que é a minha grande novidade actual