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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

Crazy, Holmes Place e Paixão


Tita

02.03.09

 

Há uns temos atrás escrevi aqui coisas péssimas sobre o Holmes Place. Não retiro uma linha do que então disse. Porém, falta-me um pequenino apontamento de gratidão. E isto só prova como as coisas na vida são basicamente policromáticas. Bom, para ir directa ao assunto, devo começar por dizer que é bom fazer Personal Training em casa, e sobretudo, na cama. Pois é isto que eu tenho a agradecer ao Holmes Place. Se não fosse por eles eu não estaria hoje em tão boa forma global. Muito obrigada.

 

E a história começa assim: em 2000 estava casada; em 2001 continuava casada; em 2002, ainda casada, começei a frequentar o Holmes Place da Avª Defensores de Chaves (na verdade, eu tinha escritório da Avª Praia da Vitória e morava na Duque D´ Ávila, logo podia ir a pé para o ginásio, o que fazia diariamente). Isto, claro, até me chatear de morte pelas razões aduzidas em anterior post, e às quais não vou naturalmente voltar agora.

 

Para o que importa, fiquei um ano sem ir a ginásio nenhum, dedicando-me exclusivamente ao ténis. E continuava imersa no mesmissimo casamento. Mas como não dá para jogar ténis sem "malhar", rompi uma coisa no joelho. E tive de parar de jogar. Resolvi, então, que iria inscrever-me no "Clube VII". Estava tudo decidido. Porém, o cônjuge, que cada vez me fazia sentir mais casada no sentido pesado do termo, encetou uma manobra de antecipação: foi ao dito "Clube VII", resolveu unilateralmente que não gostava e convenceu-me que o melhor mesmo era um regresso (agora em conjunto) ao Holmes Place da Defensores de Chaves. Porque, na verdade, ficava mesmo ali à mão. Enfim, foi aquela pressão ao melhor estilo matrimonial, que me bateu pelo cansaço.

 

Fui. Mas muito contrariada. Porém, fui. Claro que me fartei de gritar com a menina que organizava os papeis da inscrição enquanto me ia inscrevendo: "porque este clube isto, e aquilo, e mais isto e sabe que mais? É detestável esta coisa de estar presa a uma organização durante uma ano. Parece uma casamento e eu não me quero casar convosco!". Pois de casamentos começava eu a ficar muito farta, na verdade (embora sem admitir). E estavamos no final de 2004.

 

Voltei, então aos meus treinos diários. Passava duas horas por dia no ginásio sózinha. Verificava-se uma feliz falta de coincidência de horários matrimoniais. E durante essas duas horas eu podia recuperar de uma asfixia inenarrável a que se resumia a minha vida privada. Já por isso, não queria falar com ninguém ali dentro. E muito menos com os PT. Sobretudo se estavam com aquela camisolinha encarnada das horas de MI (Member Interaction). Pois interacção era coisa que eu não podia mesmo suportar. Nestes propósitos, andei ali um ano seguido em que foi possível fintar tudo e todos. Eu era tão distante, que já ninguém se atrevia a tentar sequer falar comigo. Óptimo.

 

Mas eis que um dia surge uma novo membro do staff. Tinha vindo do Holmes da Quinta da Bloura. Era tão qualificado que lhe disseram para não ir para a Defensores de Chaves (porque era o clube mais antigo), mas para as Amoreiras (recém inaugurado). No entanto, este novo membro do grupo de Personal Trainers não quis. Por razões que ainda hoje não consegue explicar, decidiu firmemente ir trabalhar para a Defensores. Por mim, devo dizer que mal me defrontei com a pessoa entrei imediatamente em pânico. Era duma simpatia!!!!! Um verbo fácil, um sorriso leve e permanente... uma capacidade de chegar. Pensei: "estou lixada!" Como é que eu ia escapar? Eu tinha de escapar. Precisava daquelas duas horas de paz. Aquela criatura era uma ameaça! Uma armadilha, mesmo!

 

Engatei o ar mais antipático que consegui montar e evitei sempre qualquer tipo de proximidade. E, claro, "eye contact", nem pensar! Mas, enfim, se uma pessoa tem que cumprir um programa de exercícios é natural que fique presa a uma máquina e a outra durante um determinado período de tempo. É aqui que se fica mais à mercê de investidas, portanto. Mas eu metia os olhos no chão e tinha sempre o Ipod ligado. Estava preparada. A questão é que a pessoa mais simpática do universo foi-se aproximando de mim. E eu notava. E eu não queria! Mas aproximava-se, contudo. Quando estava a dar PT, arranjava forma de estar na máquina ao lado, quando fazia MI, resolvia interagir perto de mim. Pois, na verdade, já tinha resolvido que havia de me "desmontar". Par começar, porque eu era a maior antipática do mundo.

 

Um dia, estava eu na "Chest Press" e... exacto: apareceu na minha frente a sorrir: "posso corrigir-lhe os pulsos?". Perguntou em voz baixa. Fiz que sim com a cabeça. Antes de se inclinar sobre mim, olhou-me nos olhos. Depois avançou: "as mãos têm de estar na linha dos mamilos". E esticou o dedo que fez passar sem tocar mas por pouco sobre a dita linha dos MEUS mamilos! Finalmente, sorriu, virou-me as costas e foi-se embora. Fiquei aparvalhada. Pensei imediatamente que aquilo poderia muito bem ser uma inesperada,  imprópria e nada habitual manobra de engate. Mas não fiquei com certeza nenhuma. Bom, fosse o que fosse, agora é que eu tinha mesmo de fugir a sério porque, além do mais, eu estava casada para a vida. Cansada, mas casada. E pela força das ideias queria continuar assim. Desde que tivesse duas horas por dia no ginásio para encher o peito de ar, claro.

 

No dia seguinte apareceu-me estava eu a começar a minha meia hora de bicicleta. Nem queria crer! Não tirei os "head phones". Mas não podia sair dali. Tinha que fazer meia hora, claro. Não se importou. Sorria e falava. Eu fiz um ar cínico e tirei apens um dos auscultadores para mostrar a inoportunidade da abordagem. Não resultou. Plantou-se literalmente ali ao pé a falar. Irritada, tirei o outro auscultador. Nem tomou conhecimento. Continuou a falar no meio de um milhão de sorrisos. Resolvi colaborar, sob pena de passar por mal educada. Foi então que comecei a ouvir. Filhos, casamento há não sei quantos mil anos... Realizei, então, que não estava realmente a ser engatada. Exacto. Um alívio? Sim. Mas nem tanto assim, senti por uma fracção de segundo na altura. Mas, em termos gerais, um alívio.

 

E pronto, passei a ter uma amizade no Holmes Place. Pelo menos, meia hora da minha paz de espirito desvanecia-se todos os dias numa conversa, que não chegava a ser exactamente agradável porque eu dava por mim sempre muito tensa. Já não levava o Ipod muitas vezes, e estava sempre a dar aquela musica "Crazy". Lá no sisema de som local. Mexia comigo. Essa musica... Tudo. Resolvi fugir um bocadinho. Deixei de aparecer tanto. Mas ia aparecendo. E falava-lhe da minha mãe, e contava-lhe da minha relação sufocante... Ouvia tudo atentamente. Mediu-me o indice de massa muscular e em Junho ofereceu-me um manjerico. Largava os PT's para falar comigo um bocadinho, quando não estava de MI... Portanto, quando estava a fazer treino personalizado. Acho qe não podia muito fazer aquilo. Quer dizer, largar as pessoas. E eu estava sempre tensa. Passou um ano. E foi sempre assim. Tensão, casamento sólido, falta de ar... ah e muito humor. Tinha um sentido de humor que me desnorteava. Que me atraia escandalosamente.

 

A certa altura, pedi-lhe para me fazer a "Reprogramação". Fez. Durante, eu disse-lhe que, em geral, não gostava muito de pessoas. Perguntou-me imediatamente: "Mas de mim gosta, não gosta?". Deixei de ver o contexto. Não sabia o que responder: "De si gosto.". Corou muitissimo. Achei que aquilo não era realmente normal. No exercíco dos ombros colou o corpo nas minhas costas e eu achei que fez de propósito. E fez, mas não queria fazer. Foi sem querer, querendo, logo aconteceu.

 

Despareci por uns meses. Eu estava casada. Pesada. Sufocada. Conformadissima. Em principio parecia-me que estava bem. Em Outubro tinha uma viagem marcada para as Caraíbas. Não me pude imaginar em idilio conjugal numa praia deserta debaixo de duas palmeiras. "Olha, não podemos ir às Caraíbas, afinal. Sabes, o trabalho e tal...". Voltei ao Holmes da Defensores. Fui de manhã, como sempre. Mas decidi que aquela era a última semana de manhã. Na semana seguinte passaria a ir apenas à tarde. Era por causa do trabalho. Em principio, aquela amizade deixaria de ter pernas para andar poque a pessoa dos sorrisos só lá estava de manhã. Achei melhor fazer um convite para almoçar. Assim a título de despedida. Com o meu, nesse dia, tinha dois. Aceitou-me.

 

Fomos dali a dois dias. Não comemos nada. E durou até às cinco da tarde. Foi comigo buscar uns bilhetes para Barcelona, e depois eu fiz-lhe companhia até ao carro. "Venha treinar no sábado. Vou-lhe dar uma sessão de PT a sério". Disse que sim, mas, em segredo, decidi que não. Á noite ouvi uma musica no carro, parada num sinal vermelho. Era a "Carta", dos Toranja. E os sorrisos invadiram-me. Aquela parte da "chama minha e tua" perturbou-me tanto que arranquei do sinal à doida. "Eu não acredito, que isto me está a acontecer". Ía para casa. "Meu Deus! Não ponho mais os pés no Holmes Place!".  Tinha-lhe prometido um filme. Deixava na recepção e pronto.

 

No sábado telefonou-me. "Estou à sua espera". Respondi-lhe decidida: "não posso ir treinar. Vou passar agora aí para lhe dar o filme. Deixo na recepção". Estavamos em 2006. Outubro. Estava pronta para parar o jipe à porta, meter os quatro piscas e... Mas não. Estava lá fora à minha espera com o fato de PT vestido. Não achei normal. Parei. Abriu-me a porta. Entrou. Estendi-lhe o filme. Afastou o filme. Olhou-me e disse-me tudo. Respondi-lhe que, em pincipio, as pessoas não sentem essas coisas sozinhas. Saiu e, mais uma vez, arranquei deseperada.

 

Segunda feira fui à tarde. Estava lá. Esperou por mim. Era para me dar aquela sessão de pt do sábado. Está bem. Apertou comigo. Com os meus musculos. Disse-lhe que não queria nada. "Não tenho feitio para andar a enganar. Eu tenho uma relação há 6 anos e meio e você há muito mais, além disso, dois filhos. Não quero nada disto". Aumentou-me a carga no "Leg Press". Disse-me que também não queria nada disso. Queria ter uma relação comigo. "Mas não dá", disse eu. "Dá se nós sentirmos". Pensei que não podia ser. "Como?". Agora mandou-me correr na passadeira. "Vamos ter uma relação e se acharmos que vale a pena, você acaba com a sua e eu acabo com a minha". Eu estava doida com esta simplicidade. Achei tudo um absurdo. Não ia fazer nada disso.

 

Durante um mês namorámos todos os dias duas horas dentro do meu carro no jardim do Teatro da Praça de Espanha. Ao fim desse mês, eu já queria tudo, mas continuava a não decidir nada. Não fomos para a cama uma única vez. Mas em Novembro fomos então. Afinal estava tudo decidido dentro de mim. Em Dezembro sai de casa. A pessoa dos sorrisos veio viver comigo.

6 comentários

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    Tita 27.03.2009

    Por sua causa, reli o post. Pois, se não tivesse sido comigo, diria que é uma coisa inacreditável. Mas, olhe, não é. Believe me.
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    Caminho 30.03.2009

    Às vezes tb me encanto por pessoas do "exterior" quando o encanto pessoal vai desvanecendo, acho que às vezes preciso disso, é mesmo uma necessidade...
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    Tita 01.04.2009

    Eu, por mim, tenho a impressão de que existem pessoas muito mais fascinantes fora do círculo de gente que (eu querendo ou não querendo) me rodeia. Resta-me conhecê-las. :)
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    Caminho 01.04.2009

    Ás vezes a rotina, o conforto pessoal, farta...
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    Tita 02.04.2009

    A mim cansa-me a pressão: pessoas que estão sempre a querer que nós façamos o que elas querem; pessoas que querem sempre saber onde estamos, o que fazemos e com quem estamos a todo o momento. Isto destrói qualquer relação. Pelo menos qualquer relação onde eu estaja envolvida. Um beijinho
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