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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

"AZAR DEL MADITERRANEO"


Tita

15.02.07

 

 

 

Este gato era meu. Tinha 2 anos quando desapareceu. Era um gato que não sabia saltar muros. Assim, ele saiu quando viu um portão aberto. Uma vez lá fora, e o portão fechado, não conseguiu voltar. Porque ele não sabia saltar muros, repito. Acabara de estrear em Portugal o filme do Garfield e ele nunca mais voltou.

 

Foram dois anos em que estreitámos uma relação que começou logo bem. Vi-o, pela primeira vez, dentro de uma jaulinha, no meio de outros gatinhos bebés como ele. Mas, como ele, os outros só tinham a característica de ser bebés. No mais, só ele era cor de laranja e gostava especialmente de interagir. 

 

A espanhola que mo vendeu chorou no momento em que fez isso, lá na exposição de gatos. No meio das lágrimas, ainda me explicou que o nome dele  - "AZAR" - significava Fortuna, para os espanhóis. Não admira portanto que a Espanha seja um país mais "bem posicionado" do que o nosso. É tudo uma questão de atitude. Foi o que pensei, na altura. Porém, mesmo assim, não achei bem e mudei-lhe o nome. Ao gato.

 

Mas eu chorei muito mais no momento em que soube que não o teria mais comigo. Era um grande amigo. Foi, talvez, a minha primeira grande perda. Qualquer coisa semelhante à morte. Ao que se sente quando alguém que realmente nos faz falta parte de vez. Ele foi. Compreendi que não o voltaria a ter comigo. Foi como se tivesse morrido. Nunca tinha experimentado nada assim antes. Fiquei sem o meu Gagá para sempre.

Já me morreram pessoas de família. Mas não o meu pai, a minha mãe ou algum dos meus irmãos. Estas pessoas não podem morrer. Nenhuma delas - embora muito saudavelmente tema a morte, não sei se gostaria de morrer antes, para não passar por essa perda irreparável. Tenho impressão que sim.

 

Quando perdi o Gagá lembrei-me disto. É quase a mesma coisa, pensei. Talvez Deus me estivesse a iniciar nesse tipo de processo. Numa experiência que, incontornavelmente, nos há-de tocar a todos. Aprender a lidar com a perda. Amadurecer.

Até parece que a vida é um caminho que leva, sobretudo, à perda. Talvez isto justifique, em grande medida, o nosso egoísmo. Talvez o nosso egoísmo se justifique pelo medo de perder. Perder é sinónimo de sofrer, vistas as coisas de um determinado prisma. Ser egoísta a estas medidas significa, verdadeiramente, abdicar de viver. Por isso os egoístas se agarram tanto à vida. Ás experiências materiais da vida. Gozam a vida. Não vivem a vida. Gozam com a vida. Perdem a vida, já que não perdem mais nada. Perdem tudo e morrem. 

 

Perdi o Gagá. E é como se ele tivesse morrido. Passaram já dois anos sobre este sucedido, e ele há-de ter 4, se Deus quiser. Sei que alguém o apanhou porque é evidente. Por isso, há-de ter outras pessoas de quem gosta e precisa. Acredito que já me esqueceu e é feliz. Os gatos precisam de muito pouco para serem felizes. Todos devíamos observar melhor os gatos.

 

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