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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

LOUCURA E AMOR


Tita

20.01.10

 

 

 

 

Muitas coisas me têm afectado ao longo da minha vida numa base diária. Coisas importantes e coisas sem importância nenhuma, numa perspectiva relativa das coisas. Por exemplo, tudo o que se passa durante uma semana da minha vida é como se fosse um trabalho de casa que eu tenho de fazer semanalmente. E que tudo o que se passa durante uma semana da minha vida, é tudo aquilo que eu vejo, ouço, sinto e penso durante essa mesma semana. O que, obviamente, dá muito mais do que o produto de sete dias comuns. Assim como quem vai só para o trabalho e descansa ao fim de semana.

 

Há uns tempos  vi o filme "As Horas" de Mrs. Dalloway (Virginia Woolf). Do nascimento à morte na vida de uma mulher em um só dia. Impressionou-me. Porém, fiquei segura que, embora percebendo o essencial, não compreendi muitas coisas. Coisas que eu não sei dizer quais são porque não li Mrs Dalloway. Tudo por causa do "The Lady in the Looking-Glass" . Não gostei e não voltei a tocar na Virgínia Woolf. Também era uma adolescente! Talvez deva voltar às duas, e à terceira: à Mrs, à Lady e à Virginia.

 

Antes de ver o filme, e passe a ignorância, não tinha ideia que Virginia Woolf era esquizofrénica. E continuo sem certezas. Mesmo tendo visto "Quem tem medo de Virgínia Woolf " no teatro. É claro que a própria nada tem a ver com esta peça. Só aparece na cantilena (sim, realmente, sintomática de padecimento esquizofrénico de uns e do medo do padecimento, por parte de outros): "Quem tem medo de Viginia Woolf? Virginia Woolf , Virginia Woolf ...".  Talvez a Elizabeth Taylor hoje. Ela que fez de Martha no cinema.

 

Em geral, as pessoas têm medo dos loucos. Eu não. Praticamente nasci e cresci num sítio onde os loucos eram amados. Onde não havia só loucos. Onde os loucos não eram diferentes dos paraplégicos, dos cegos, dos negligenciados e dos normais desproblematizados, segundo os parâmetros do senso comum. Nada mais semelhante a um circo alegre, ou aquele que não existe. Diferente do clássico que deprime toda a gente.

 

A propósito, não sei porque se concebe que o circo é para as crianças. Nem, aliás, porque se pensa que o circo é para alguém. Por mim, o circo não existia. Ponto.

 

Bom, mas os loucos de onde eu cresci eram teoricamente menos perigosos para si próprios do que os do Hospital Júlio de Matos, ali na Avenida do Brasil. E esta frase sobre o perigo da loucura não tem sentido nenhum neste contexto. Ponto. Só para ligar com o parágrafo seguinte, na verdade.

 

Um dia fui ao Júlio de Matos. Embrenhei-me lá pelos jardins que cortam os diversos pavilhões. O Paul Newman, ainda em novo, pediu-me um cigarro. Olhou-me bem nos olhos com os olhos azuis. Eu não tenho medo de loucos. Estávamos completa e irremediavelmente sós. Eu e ele. Ele colou os olhos nos meus. Eu preguei os meus nos dele. Senti o sangue muito frio por uma fracção de segundo. Medo, pois. Depois, ele franziu a testa. Passou o medo, que eu não tenho, pois. Dei-lhe o cigarro e acendi-lho. Ele deixou os ombros relaxarem. Disse-me: "você é uma boa pessoa. Não é como eu. Eu sou muito mau. Por isso estou aqui". Respondi-lhe que não com a cabeça. Sorri-lhe e fui arrependida por não lhe ter dito que ele era lindo, apesar de tristemente morto de vez em quando. Era lindo. E inesquecível. Nunca lhe diria que percebi que ele estava morto de vez em quando. Mas fiz bem porque isso também não era verdade. Ambos sabíamos bem que o que se passava era, precisamente, o contrário:  com efeito, transbordâncias de vida mental, era o que se passava. Em conclusão, pelo que pude observar, o Paul Newman estava muito mais lixado do que a Virginia Woolf .

 

Não compreendi porque razão, em "As Horas", as mulheres passavam a vida a beijar a boca uma das outras. Igualmente não li o "Orlando". Por causa de "The Lady in..." , já o disse. Também deixei passar o filme ("Orlando"). De qualquer modo, li o "Retrato de um casamento", publicado por Nigel Nicholson, e baseado no diário da mãe, Lady Vita Sackville-West. Que só aparentemente nada tem a ver com o assunto. Pois, ao que consta, um dado está ligado ao outro. Vita e Orlando são a mesma pessoa.

 

Por outro lado Victória Sackville-West, ou mais propriamente, o filho,  revela ter tido um caso de amor com Virginia Woolf. O que o pai de Nigel andava, não andava e permitia fazer, também está esclarecido no referido livro. Mas o que se passava com o senhor Woolf é que passou a ser, para mim, desde "As Horas", um perfeito mistério. E o que esperava este homem daquele casamento?

 

Claro que Viginia Woolf não se suicidou.  O que não é verdade. Embora esteja pouco ou nada morta. No entanto, não tem nenhum filho que lhe publique o diário. Creio eu. Sobre o filho e sobre o diário, não sei se efectivamente existem. Embora tenha quase a certeza que não.

 

Se eu pertencesse à nobreza inglesa, talvez pudesse entender porque razão vai um filho expor os afectos arrebatadores e as intimidades homossexuais da mãe Vita com Violet Kiepel. Quero dizer, não entendo porque não se bastou ele, o Nigel, com as explicações que deu no livro. Para quê publicar extractos do próprio diário da mãe, que, ainda por cima, contrariam quase tudo aquilo em que ele nos quer fazer acreditar? Talvez não lhe publicassem o livro de outro modo. Mas para quê publicá-lo? Talvez a Rainha Isabel II saiba tudo.

 

Porém, ainda, sobre "As Horas," os beijos femininos sobre os beijos femininos foram ali colocados para dizer que Virginia Woolf se sensualizava por mulheres? A isto a Rainha Isabel II não saberá responder. Estou quase certa.

 

Pensava que para amar e ser correspondido era necessário ser tomado a sério pelo correspondente. Talvez os Correios percebam isto melhor do que eu, já que se fala aqui de correspondências. Porém, nem eu, que não tenho medo de loucos, acreditaria num amor desses. Gosto de ser levada a sério. Para começar. De resto, não poria obstáculos ao amor de um louco por mim. Se tal amor tivesse aspectos carnais estimulados pelo ciúme e por aquele género de pulsão que nos leva a fazer as maiores loucuras. Também, o amor necessita de uma sólida base de confiança mútua.

 

30 comentários

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    Tita 24.01.2010

    O post foi escrito assim propositadamente. A loucra é o tema, O desconcerto do texto está em conformidade. Enfim, há aqui algo de verdadeiramente literário. É o que eu modestamente acho
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    sara 25.01.2010

    Pois, quanto a isso não te posso confirmar nem desconfirmar.... não sei... simplesmente não sei.
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    Tita 25.01.2010

    Pois, mas podias mentir e dizer que sim.
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    sara 25.01.2010

    Já devias saber que não sou dada a essas coisas! Muito menos com amigos! Para mim fazer tal coisa com alguem de quem gosto e que respeito seria impensavel! Seria na realidade uma grande falta de respeito da minha parte e um sinal da minha parte que não estava para me chatear ou perder tempo com a pessoa. POrtanto, já não seria amigo.
    (Acabei de reparar que tenho o relogio do computador atrasados duas horas e por consequencia achei que era duas horas mais cedo :S)
    Mas queres que minta?
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    Tita 25.01.2010

    Claro que não quero que mintas. Mas... e agora ja perdeste o sentido de humor?
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    sara 25.01.2010

    Tenho-me andado a debater com uns macacos no sotão, meus.... e passei o fds fechada sobre mim propria...
    EStou a deixar que o meu bem estar não dependa apenas de mim... que não venha de dentro e isso não é bom... deixa-me menos estável.
    Desculpa
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    Tita 28.01.2010

    Talvez não seja boa ideia dramatizar muito. Creio que não é uma fase muito anormal. Mas falaremos disso pessoalmente para a semana, se achares bem. E desculpa porquê?
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    sara 28.01.2010

    Acho óptimo!
    Mas a resposta a parte das coisas acima é PMS!!!! ;)

    Agora, bem disposta, muito cansada e atulhada em trabalho.

    Beijocas
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    Tita 29.01.2010

    Ok, babes. Bom trabalho. Moi aussi, a propósito. E vou já meter-me a fazer. Hoje vai ser pela noite dentro. Socorro!!!!!!!!!!
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    sara 29.01.2010

    Bom Trabalho!

    Eu vou esperar por uma reunião via Skype, para alinhavar um projecto e depois óó.
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    Tita 29.01.2010

    Fantático. Estamos as duas sem tempo para respirar. Beijos.
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    sara 29.01.2010

    Tirando que a minha reunião não chegou a acontecer e às 2 da manhã eu dormia profundamente, com televisão e computador ligado.

    Suponho que tu tenhas tido uma noite em branco. ESpero que tenha corrido bem.
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    Tita 29.01.2010

    Lamento. A minha também não foi lá aquelas coisas em termos de produtividade. E a ansiedade sobe, sobe. Beijos grandes
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    sara 29.01.2010

    Afinal, quando tens tu de entregar? Qual é o prazo limite?
    Beijoca Gordissima
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    Tita 29.01.2010

    Domingo parece-te bem? Beijinho
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    sara 30.01.2010

    Tens de fazer a entrega da tese no Domingo?!?! Essa parece-me original!!!!!

    Para o caso de estares a propor programa sim parece-me bem.
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    Tita 31.01.2010

    Tenho que entregar domingo por email e segunda em suporte de papel. Também pretendo marcar um programinha, mas só depois de terça, Tambem estou com saudades. Beijos.
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    sara 31.01.2010

    e para mim antes de sexta.... vôo de sexta para sabado e vou entrar em estado de sitio nos ultimos dias.

    Muita força e bom trabalho.
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    Tita 31.01.2010

    Olha, eu então já não sei. Acabei de enviar um email ao Coordenador a pedir um adiamento por mais 15 dias. É que não estou a aguentar! Espero que o homem diga sim, senão mando-lhe o que está e pronto! Embora tenha lido, relido e não gostado. Espero que os teus números corram muito melhor. Faço figas por ti. Grande beijo.
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    sara 31.01.2010

    Não sei a que números te referes.

    Querida Miguinha, não estarás a ter um momento de insegurança? Não será apenas pânico da entrega?

    Tens de respirar fundo e acalmar (eu sei que é fácil falar).

    Vai correr tudo bem. Confia em ti.

    Beijo Grande
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    Tita 02.02.2010

    Os teus números é o teu trabalho, tonta. Obrigada pelo apoi.
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    sara 02.02.2010

    Tonta!!!!! Eu!!!!
    Mas lindona, eu não trabalho no circo!?!?! (ainda)

    Mas diz-me, que estou curiosa. Entregaste ou conseguiste adiamento?
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    Tita 03.02.2010

    Trabalhas no circo... LOOOOOOOL!!!!!!!!!!!!! Consegui o adiamento.
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    sara 03.02.2010

    Ja sei cabeça no ar. :)
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    Tita 03.02.2010

    É pouco.
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    sara 03.02.2010

    O que é que é pouco?
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    Tita 05.02.2010

    Penseique me ias chamar algo mais criativo. Cabeça no ar é pouco.
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    sara 05.02.2010

    Brasa... Brasa é um bom adjectivo.
    Tinha uns amigos de infancia... uma especie de irmãos adoptivos, que para gozar com a mãe a chamavam de brasa.
    Brasa, aparentemente é positivo, mas depois é tãaao kitsch.... lololololol.... quase pimba.
    Beijos brasa
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    Tita 08.02.2010

    Brasa? Sim, eu sei que sou... kitsch. Obrigada. :)
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