SMILE - com algumas pequenas alterações
Tita
11.05.10
"Something in the way she moves...". Isto é dos Beatles, mas eu pretendo ignorar o facto. As músicas dos Beatles que eu adoro, nunca gosto quando são eles a cantar. É assim. Para mim, claro. Para os demais, é como os demais quiserem.
Por outro lado, o Tony Bennett canta isto, o "Something", como ninguém canta para mim. Não meti a vírgula de propósito. Podia ter escrito: o Tony Bennett canta isto, o "Something", como ninguém canta, para mim. Mas, se tivesse feito assim, não significaria que ele canta para mim. E era isso que eu queria dizer.
E porque cantará ele para mim? Em primeiro lugar, porque eu sinto assim. Em princípio, podemos sentir as coisas mais diversas. Aliás, não podemos sentir. Por definição, os sentimentos não podem ser impostos. Embora sempre possam ser provocados. Mas isso é outra coisa. Assim, é melhor dizer: uma pessoa sente as coisas mais diversas. No caso, e sublinhando, sinto que o Tony Bennett canta o "Something" para mim. Além do mais, também considero isto perfeitamente natural porque, quando ouço música mesmo a sério, nunca está ninguém comigo. Portanto, toca o "Something", e só estou lá eu. Logo, só pode ser para mim. Isto tem lógica. Não tem? Claro que tem.
Tenho de dizer que não há nada pior do que ir passando na vida por várias vidas, e ir deixando um livro aqui, um disco ali... Não posso com isto! E acontece-me, mesmo assim. É péssimo!
Tenho a Shirley Bassey a cantar o "Something", mas não é a mesma coisa. A mulher não canta o "Something" para mim. Creio que já escrevi por aqui que a Bassey só canta superiormente duas musicas. Uma delas chama-se "The greatest performance of my life". E não por acaso, a outra não me ocorre agora. Mas ninguém mais devia poder cantar "The greatest performance of my life". Isto, se o mundo fosse feito à minha medida.
Porém, o que importa é que o meu disco do Tony Bennett com o "Something" ficou em algum lado há muito tempo. De vez em quando, lembrava-me disto. Do "Something" só para mim. E doía-me. A perda. Eu sou assim com os livros e os discos, também com a cola zero e o chocolate preto, embora noutro registo, claro, e com a roupa, ainda noutro plano.
Pronto já tenho o Tony Bennett a cantar o "Something" para mim de novo. Entretanto, passei a musica para o Iphone! Agora ouço sempre que quiser. Sempre que estiver sozinha.
Gosto de estar sozinha. O que é muito diferente de estar só, como se sabe. Só, não. Não gosto de me sentir só. E só em raros momentos da vida tal me sucedeu. É verdade: não há muito muito tempo, cheguei a sentir-me realmente só. Agora não. Paro já aqui para detectar um disparate. O disparate do "não gosto de estar só". Mas alguém gosta? Bem. Vou fazer uma pausa..............Pausa terminada. Prosseguindo, importa não confundir a tristeza com solidão e a expectativa com abandono. Solidão e abandono poderão ser sinónimos, se quisermos. Tristeza e expectativa, também. Mas, definitivamente, a dor, na maior parte dos casos, não é um sintoma de solidão. E, muitas vezes, é um sinal inequívoco de crescimento. Se for possível contornar com êxito o "síndroma de Peter Pan", chega-se ao ponto em que se percebe que crescer é bom. Essencialmente porque dá muito jeito. No fundo aprende-se a pôr convenientemente em prática aquele verso do Jorge Aragão "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". E compreende-se muito melhor porque é que o Micheal Bublé anda a repetir o Sinatra quando canta o "That's Life".
Neste momento estou a ouvir o "Brass in pocket" dos Pretenders. Gosto do refrão. Gosto realmente muito do refrão. Vejamos: "I´m gonna use my arms/ i'm gonna use my legs/ I'm gonna use my style/ I'm gonna use my fingers/ I'm gonna use my my my imagination/ Cause i'm gonna make you see/ There's no one here/ no one like me/I'm special/so special...". Não que eu própria me sinta especial no sentido mais imediato do termo. Antes, pelo contrário. Sei perfeitamente que não existem pessoas especiais, em termos objectivos. Somente dentro de perspectivas subjectivas. A musica é "up". Musica e letra. Pela energia da musica e letra. Pelo poder da voz daquela mulher também. Contudo, no sentido mais mediato e subjectivo do termo, ou seja nos termos da letra, i'm special. Disto não tenho dúvidas.
Agora vou falar no "Smile". Porque é o título muito propositado que eu escolhi. E deixei ali em cima no sítio próprio. Pois também recolhi o "Smile" para o Itelefone. Vou deixar aqui um bocadinho da letra. Só para que tudo, afinal de contas, faça sentido. Porém, antes, devo dizer que não sinto tanto que esta musica seja cantada só para mim pelo Bennett. Há quem o faça muito melhor do que ele, designadamente o Sinatra. Portanto, o "Smile": "Simile though your heart is aching / Smile even though it's breaking ... Smile and maybe tomorrow / You'll see the sun come shining through for you...".
Devo referir que fiz esta descoberta fantástica. O Ipod do Iphone. Sempre lá esteve, como todos sabemos. Eu... bem, eu nunca tratei do caso devidamente. Queria, mas não tinha tempo, e tal. Eu nunca tenho tempo, e tal. Agora, com o bocadinho de tempo que não tinha, e tal. Fiz algumas coisas com interesse. Para mim, obviamente. Pois ripei CD's meus e pesquisei música na internet. Encontrei! Verdadeiras surpresas. Não nos meus CD's, claro. A maior e melhor de todas, de todas as surpresas, tenho de dizer isto... foi a própria Lady Gaga. Exacto! Digo isto em choque ainda. Porém... a versão acústica do "Poker face" é something! Ela canta muito. Nada a fazer. Depois, há uma outra música... "Again, again", que começa assim: "You gotta gotta a lot of nerv coming here". Vale a pena ouvir. E não vale a pena dizer mais nada.
Também enchi a aparelhagem do itelefone com a Nelly Furtado. Gosto dela. Muito. Sem surpresas. É linda de um bom gosto (divino?) raro. Tem um talento especialíssimo para compor. E uma voz ma-ra-vi-lho-sa! Haverá uma montanha de gente a discordar de mim. Certamente. E depois? Já passei essa fase. Agora estou mais numa de "Manos al aire".
Musica. Essencialmente, é do que tenho estado a falar. Ou talvez não. Talvez não. Por outro lado, sim. Há umas coisas que não se desenvolvem bem sem outras.
De qualquer forma, e para o que importa, eu e os auscultadores estamos inseparáveis. Mesmo durante as horas de trabalho. Diria mais, especialmente durante as horas de trabalho. E não é que o trabalho está a correr muito melhor? Outra descoberta!
No mais, estou de auscultadores neste momento também. É bom estar sozinha com esta companhia toda.