O AMOR DE VINICIUS DE MORAES
Cat2007
04.11.10
Vinicius de Moraes. Gigante poeta que, como todos sabemos, era um enorme canalha.
Quantos idealistas e românticos distraídos pararam a ouvi-lo falar do Sábado como um judeu arrependido.
Quantas mulheres fecharam os olhos ardentes da febre por causa do som dos seus versos. E quiseram para si aquele homem ideal.
Todas as mulheres que o ouviram são as mulheres de Vinicius. E são infinitamente mais do que as que ele teve. Porque, para além das que possuiu, ainda existem aquelas que quiseram tê-lo. Repito, todas as mulheres que o ouviram são as mulheres de Vinicius.
Tenho por aqui um disco onde ele, como habitualmente, fala um bocado. E, a certa altura da conversa, o poetinha revela o seguinte: a mulher verdadeiramente bela tem de evidenciar uma ponta de sofrimento no olhar.
Levanto a cabeça. Vou franzir a testa. A semente da indignação é lançada em mim.
Indiferente, ele continua. Repete-se. A expressão máxima da beleza da mulher só é revelada depois da vivência da dor.
Reflicto. Creio que ele se refere ao sofrimento por causa do amor. Do amor ou da traição do homem demasiado livre para ser exclusivamente devoto a uma mulher. Que sacana!
Tenho a certeza que todas as mulheres que amaram o Vinicius sofreram as consequências de ele não ser precisamente o que escrevia: "O amor é eterno enquanto dura". Este homem criou e proferiu a frase que não era mais do que um auto-retrato. Saiu-lhe. Com sinceridade. Como ele era. Sincero e cândido. Os músculos do meu rosto começam a relaxar.
Reflicto mais um pouco. Relembro. Vinicius era um bêbado maravilhoso. Infeliz. E deu-nos tanto. E deixou-nos tanto.
Como a vida é estranhamente circular! As mulheres do Vinicius aproveitaram mais com ele do que ele se aproveitou delas. Parece-me. Porque este homem lhes terá mostrado pedaços de eternidade. Algo que ele só era capaz de imaginar e de fazer sentir. Mas não podia pessoalmente alcançar. Creio.