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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

O BLUES DA PIEDADE


Tita

07.11.10

 

 

Pergunta de desenvolvimento.

 

Com base nos conhecimentos que adquiriu nesta disciplina, comente de forma sintética o seguinte excerto:

 

"Agora eu vou cantar para... as pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas, querendo sempre aquilo que não têm. Para quem vê a luz mas não ilumina as suas mini certezas, vive contando dinheiro e não muda quando é lua cheia. Para quem não sabe amar e fica esperando alguém que caiba no seu sonho. Vamos pedir piedade, Senhor piedade. Para essa gente careta e covarde."

in Blues da Piedade/ Cazuza.

 

Resposta:

  

A melodia não é encantadora, como a maior parte daquelas que o autor compôs não são. Porém, algumas são. E quando são, emocionam. No entanto aqui o que importa  são as palavras. Falar delas de forma sintética não é possível. Sintético era o Pessoa. E já está morto.

 

O comentário será feito com base nas emoções. Serão ditas as emoções desencadeadas pelo que o autor disse.

 

A alma é a energia da vida e o espírito é a forma interna que a vida assume, ao passo que o corpo consiste na configuração material da nossa existência (Mann, Thomas, "José e os seus irmãos").

 

As pessoas de alma pequena têm-na assim porque passam a maior parte das suas vidas a ocupar voluntariamente  as respectivas cabeças com pequenos problemas. Com impossibilidades várias. Eventualmente transitórias. Mas sucessivas. Logo infindáveis.

 

Só pensam em obter aquilo que não têm. A alma é do tamanho que é porque a forma dos seus espíritos apenas lhes permite pensar como pensam. Nas impossibilidades sobre promoções, aquisições e exibições. A alma está presa. Caiu numa armadilha montada para feras de grande porte. Agora está à espera que a levem para um circo ou para um zoo. Para a vida vulgar, portanto.

 

Vemo-las todos os dias sem pagar bilhete. São milhões. A sua energia sufoca-nos. Por isso é grátis como a poluição. E adoece-nos igualmente. Das vias respiratórias. Também tomamos Xanax por causa delas. Se tivéssemos de pagar bilhete, podiamos reclamar o preço dos medicamentos. No entanto, como o espectáculo é interactivo e somos, por isso, envolvidos no show, nenhum tribunal nos daria razão.

 

Há outros que vivem a pensar no que têm. Estão de olhos postos no deve e haver, bem como nos resultados liquidos. Mesmo que não tenham contabilidade organizada. Por não serem uma grande empresa. Ou por não serem empresa nenhuma. Por vezes levantam a cabeça. Mas desinteressam-se rapidamente da luz do novo cenário. Da luz mística da lua cheia nos dias em que ela aparece. Tão perfeitamente adequada a impulsionar paixões. Fecham a janela e abrem os papeis. Concretamente, os extractos das contas bancárias. São poemas de contabilista que concluem pelas "mini certezas". Alteram o estado do espírito. Dentro do significado dos números. Que não atinge a alma que pena, mas já não se agita. Está conformada. Flácida e sonolenta como os grandes felinos em cativeiro.

 

Não é arriscado dizer que qualquer dos tipos descritos não sabe amar. E afirmar também  que "gente" que se enquadra neles não está interessada nisso. Nisso do amor. Estes que se lixem, e vão de férias para Varadero.

 

Mas há os outros. De "alma pequena" que querem. Mal hajam estes. Pela descomunal distância entre o que são e aquilo que a sua carência deseja. Sonham mal. O mesmo que não sonhar. Mal hajam porque fazem o mal. E não importa se é por mera incapacidade. Os sonhos são por definição irrealizáveis. Segui-los leva-nos mais perto do melhor de nós. Faz-nos bem. Mas persegui-los... Uma perseguição aos sonhos é o que faz "quem não sabe amar e fica esperando que alguém caiba no seu sonho". Persegue os sonhos dos outros. Dos que sabem muito justamente sonhar. Amar. 

 

Quando levados, enredados, nestas falsidades obtusas e inócuas os sonhadores sofrem. Porém, no fim são sempre eles que acabam a dizer com o coração "obrigado por ter se mandado", conforme as palavras do autor do excerto em comentário. Mais uma melodia pouco emocionante onde, no entanto, o que contam são, como sempre, as palavras.

 

 

 

 

 

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