LISBOA-PORTO DE TAXI
Cat2007
29.12.10
- Qual é a lógica?
- O quê?
- Ir de táxi para o Porto.
- Outra vez? Que chatice! Vamos fazer uma operação aos olhos. Os dois ao mesmo tempo. Lembras-te?
- Não. Esqueci-me. Porque não tem lógica. Esqueço-me sempre das coisas que não têm lógica.
- Ouve lá, o que não tem lógica? Não combinámos fazer a operação para tirar as lentes de contacto?
- Irmos de táxi para o Porto. Isto é que não tem lógica. Podíamos ter apanhado o Alfa, por exemplo.
- Vamos estar sem ver bem umas horas, como queres apanhar comboios?
- Mas estás sem ver agora?
- Deixa-me a cabeça em paz! Já discutimos isto. Vamos de táxi e voltamos de táxi. É mais cómodo.
- É muito mais caro.
- Que mesquinhez!
- Que falta de educação!
- Ofende-te que te chame mesquinho?
- Não me ofendo com declarações patéticas. É falta de educação gastar dinheiro deste modo. Tenho sempre que dizer as coisas que tu não sabes. Cansa-me.
- Sempre foste um miserável. Nasceste sem um tostão. Vais morrer tão pobre como nasceste.
- Nasci com a garantia de que tinha o suficiente para viver com normalidade. Morrerei com um pouco mais do que isso. Ou talvez não. Tu não nasceste. Por isso és sub-miserável. Também não sabes o que quer dizer miséria. E não é normal ir de táxi para o Porto.
- Não me afectas. Já me habituei a isso. A essa agressividade. E tu é que não és normal.
- Óptimo. Importaste que ouça um bocado de música?
- Ninguém tem um Iphone. Música para fugir. É para isso que te serve o Iphone.
- Sim. É importante poder fugir de vez em quando.
- Porque tens sempre que fugir de mim?
- Agora estou a fugir desta viagem de táxi. Sou contra. Fujo de tudo o que sou contra.
- És um cobarde.
- Não. Sou um sábio. E agora vou colocar os auscultadores, se me permites.
- Não permito. Era o que faltava fazer esta viagem sozinha.
- Podíamos não ter vindo de táxi. Tenho a certeza que no comboio tudo seria diferente.
- E o que seria diferente?
- Tenho a certeza que conseguira chegar ao fim da viagem sem te dizer que te vou deixar mesmo aqui no meio do caminho.
- O quê? Vais mandar-me sair do táxi?!
- Não. Vou mandar-te sair da minha vida em plena auto-estrada. Sabes, não vou conseguir voltar a ver bem e olhar para ti.