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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

EM DIRECTO NA RTP: SANDRA de SOUSA PERDEU A FINAL CONTRA A GRÉCIA


Tita

05.04.11

 

Quando joga o Benfica ou a Selecção estou sempre naquela tensão. Quando os políticos falam na televisão ou na rádio, tento pensar noutra coisa. Este domingo houve um Benfica – Porto no Estádio da Luz. Em condições normais estaria tensa e atenta. Teria visto o jogo. Ou ouvido pelo menos. E como qualquer benfiquista comum, acabaria um tanto chateada pelas circunstâncias que se conhecem. Dez minutos depois, como é meu hábito nestes assuntos de futebol e maus resultados, daria por mim a pensar que naturalmente “este jogo vai virar” e “agora deixa ver o que há de giro para fazer”.

 

Desta vez não. Passei a semana toda antes do jogo a ler as notícias sobre os ratings e a crise política, económica e financeira do país. E a ver e a ouvir o que os analistas e os políticos tinham a dizer. Cheguei a um ponto tal, que as novidades de preparação para o Clássico me caíam despropositadas ao nível da indignação. Ouvi-me dizer: “Deviam mas é cancelar a porcaria do jogo!” Sentia eu que não fazia sentido ver um português que fosse com outras preocupações sérias para além das preocupações que nos dá neste momento Portugal.

 

Bem sei que os portugueses são pouco solidários por natureza (não sou eu quem o diz, mas quem estudou o caso). Bem sei que não sei como seria se a tragédia do Japão tem sido cá (pela falta de solidariedade referida). Bem sei que organização não há que preste. E ninguém sabe o que fazer. Bem sei que as pessoas estão mal informadas e é por isso que não consigo estar agora a chamar-lhes cidadãos que não sabem o que hão-de fazer.

 

Sofre-se pela bola num momento destes porque não se percebe que momento é este. Os mal-cidadãos portugueses não sabem bem o que se passa. Mas intuem que não é bom. Nada bom. Ouvem frases como “os impostos vão subir”, o “desemprego vai aumentar”, “a vida vai tornar-se muito difícil”. Basta. Venha o futebol com um Clássico com todos os condimentos necessários para vomitar a frustração pelo que já se vê e por tudo o que se prevê.

 

Em Portugal elegem-se os políticos para serem esquecidos no dia seguinte às eleições. Confere-se um mandato com os seguintes escritos: “tratem lá do assunto, que eu agora tenho mais que fazer”. Os portugueses sabem bem que os seus políticos são seus iguais. Têm exactamente o mesmo formato moral e idêntica vontade e sabedoria para trabalhar pelo bem comum. As eleições correm como verdadeiros clássicos de futebol no que toca às guerras e às paixões, à chicana e ao disparate, à falta de nível e ao alheamento dos valores básicos. É por isso que o povo adere. O que vota.

 

Até hoje não votei num único acto eleitoral. Sim. Faço parte daquela estrondosa percentagem a que é costume chamar-se abstenção. Não voto em pessoas em quem não confio e não sanciono projectos que não percebo. E não concebo nenhum partido político daqueles que temos. É por isso que nunca votei. E mantive a minha postura desinteressada e distanciada. Sempre. Até agora.

 

Até agora sabia que isto era governado com injustiça, oportunismo e falta de competência. Sabia. No entanto, pensei que estes tipos em quem eu jamais votaria, fossem eles quem fossem daqueles que se conhecem, assegurariam os serviços mínimos. Como foi acontecendo desde sempre. Desde há séculos.

 

Este povo nunca mudou por dentro. Portugal não ia agora mudar por fora. Se este povo também sou eu, respeitei sempre a vontade popular de deixar andar que a bola é no domingo ou na quarta. Se este povo ia votar, que fosse. Eu não ia mas era cúmplice das suas paixões e caprichos. Aceitei isto com os braços cruzados, descansando sobre a minha abstenção.

 

Ontem vi apaixonadamente a entrevista do Primeiro-Ministro à Sandra de Sousa e ao outro na RTP. Parecia que estava a ver a Selecção na final do Campeonato da Europa contra a Grécia. Senti-me tal e qual a entrevista toda. O Primeiro-Ministro português jogou contra Portugal, vestindo de azul e branco, como a Grécia, e ganhou-nos. Nunca vi um bandalho fazer tantas faltas para cartão vermelho e a devolver perguntas como quem só pode e sabe jogar no contra-ataque. E sempre sobre o mesmo. Sobre quem sabia jogar melhor por Portugal. Sandra de Sousa. Uma excelente jornalista. Uma cidadã que merece respeito.

 

Acresce que apesar, do nojo, desta vez vou votar. Talvez depois explique porquê.

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