"NÃO TENHO NADA PARA TE DAR"
Cat2007
01.03.12
Esta coisa dos amores e das paixões é muito esquisita. Pelo menos no meu caso. Andava a ver os "mails" por causa do carro novo e eis que me aparece, com mais de dois anos de idade, o seguinte : "E tu, muitas, mesmo muitas vezes, olhavas para mim do nada, fazias um silêncio profundo e dizias: sei que não te faço feliz, estou a tirar-te energia. Um dia vais deixar de me amar. Não tenho nada para te dar. Não gosto da minha vida, não sirvo para nada, faço-te mal. Estas e outras frases saiam de ti vezes sem conta". Bom, isto era alguém a escrever-me sobre o que alegadamente eu andava a dizer. A quem escreveu isto, claro. Encontrei porque andei a marcar emails novos, com enviados, com spam, com lixo, com outros, enfim. Encontrei porque andava ali um bocado perdida dentro da caixa do correio.
Passo a veia poetica da autoria (a existir e para quem a encontre) e centro o pensamento no conteúdo para assumir que é verdade. Embora já não me lembrasse que era assim. Que as coisas eram assim. É verdade, sim. Eu andava com esta cantiga do embala. Embora, sinceramente, não tivesse intenção de embalar ninguém. O problema era não amar e pronto.
Mas como não amar e pronto e ao mesmo tempo viver como se sim e pronto? Uma pessoa assume compromissos grandiosos e depois ou cumpre ou sente-se verdadeiramente canalha. Um compromisso grandioso dentro deste género é aquele que nos faz sentir vontade de fugir para o Brasil por causa da Judiciária que vem aí. Assim como quem está para ser apanhado numa fraude milionária sem redes governamentais ou pró-poder a servir de amparo.
Quer dizer, uma pessoa diz o que não deve e mete-se onde não pode. Por vezes não é possível dizer eu "amo-te". É que nem toda a gente percebe que não é assim e faz fé nisso. Deste modo, uma pequena fraude pode assumir proporções gigantescas, dependendo das circunstâncias. Depois de dizer eu "amo-te" surge uma expetativa que assusta. Na cabeça sempre o mesmo pensamento a passear em bicos de pés:"Mas eu disse que isto era para toda a vida? E será que agora não posso sair daqui para toda a vida?" Como é óbvio, uma vez que não se ama, a extensão do medo depende muitíssimo do que a outra pessoa vai fazendo ou dizendo. O medo e o compromisso podem ser do mesmo tamanho. Ambos grandiosos. A grandiosidade vem do aspeto trágico da questão.
No entanto, a verdade aparece por um dos diversos lados do discurso: "Não tenho nada para te dar. Não gosto da minha vida." Só não percebe quem não quer. E se não quer, o tipo incriminador da fraude não está preenchido. Pelo menos juridicamente é assim que a coisa deve ser vista.