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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

ASPIRINAS


Tita

17.09.18

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Não gosto de frases feitas. Mas tenho uma grande simpatia por lugares comuns. As frases feitas são vazias de sentido útil porque significam nada para cada ser considerado na sua individualidade. Que é como deve ser considerado cada ser. Os lugares comuns são outra coisa. São formas de falar fácil para produzirem entendimentos rápidos e precisos. Têm a maior utilidade. Toda a gente consegue compreender o que é “ter a vida presa por arames”. Ninguém percebe o que significa, por exemplo, “levantar a cabeça e seguir em frente”. É que isto não tem nada de pessoal. É tipo uma aspirina, que serve para aliviar momentaneamente quase todas as dores, mas não cura doença nenhuma.

 

O CIRCULO


Tita

12.07.18

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Ter sono no local de trabalho é quase trágico. Estou cheia de sono. Malgrado ter já tomado quatro cafés. De qualquer modo, tenho o trabalho todo sob controlo. Ou seja, amanhã faço. E faço porque dá para fazer tudo amanhã. Portanto, prometo que hoje vou para a cama cedo.

 

Mas, como disse, ter sono no local de trabalho é quase trágico. Porque a cabeça não nos anima os músculos e as horas que estão a passar não passam simplesmente. Na verdade, uma pessoa só se sente bem no trabalho a trabalhar. Se eu estivesse a trabalhar, já tinha saído daqui. Já tinha tocado para a saída.

 

Claro que posso sempre sair antes do toque. Mas é que na terça não vim e ontem sai a tarde toda. Assim, não queria abusar. Embora seja verdade que, se eu saísse mesmo agora, ninguém se sentisse abusado por causa disso.

 

Mas se, no local de trabalho, uma pessoa só se sente bem a trabalhar, porque não trabalho eu agora, tendo trabalho para fazer? Porque tenho sono. Já disse. Sou perfecionista numa certa forma de ver as coisas. Só gosto de coisas muito bem-feitas. O que não vai suceder hoje.

 

Pese embora esteja a deixar aqui uma imagem não muito positiva sobre mim no trabalho, gostaria de me justiçar. Eu gosto do que faço, faço bem e depressa. E são estas as razões que fundamentam estes lapsos para o sono e outros dedicados à procrastinação.

 

Finalmente, não sei a que propósito exatamente mas, no meio do sono, estava a pensar nas fases da vida, tendo concluído que, na infância o ser é inteiro, depois, durante boa parte da vida, uma pessoa anda a impor-se o que sentir e durante a outra parte anda a impor-se o que pensar. Por fim, numa terceira fase, se não apanhar Alzheimer ou outra doença que provoque demência grave, encontra-se. Dai os sorrisos dos velhos terem um brilho tão parecido com o das crianças. Dá ideia que, mais do que um ciclo, a vida faz um circulo.

 

MUDAR DE MENTALIDADE


Tita

04.07.18

 

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A mentalidade não muda antes de mudarem os processos de vida. Ou seja, as pessoas só mudam de mentalidade se forem obrigadas a isso. Se as coisas, as circunstâncias, mudarem de tal forma que não reste outra alternativa senão o comportamento correto para chegar à ideia certa consentânea com a correção daquele. Assim, e por fim, pela repetição imposta de um determinado comportamento o indivíduo começa a acreditar que o que tem de ser deve efetivamente ser. E já nem se lembra que, certa vez, o obrigaram a agir daquele modo, pensando que sempre pensou assim.

 

 

A CASA ARRUMADA


Tita

10.01.18

 

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Nós somos feitos de um património. Mental/emocional, físico e material. Claro que nós só somos mental/emocional e físico. Digo isto porque já ouvi alguém dizer que nós somos aquilo que podemos transportar. Basicamente o nosso corpo em todas as suas aceções. Mas se não estivermos a olhar pelo prisma do transporte, nós somos o que comecei por dizer: nós também somos o que temos. Não por virtude de raciocínios ou avaliações de terceiros mas pelas coisas que a coisa nos faz. O que nos mudam os bens. Melhor, o que fazem os bens de nós.

 

Com exceção das pessoas que não habitam casas, as pessoas habitam casas. Assim, cada um tem a sua casa (que pode ser partilhada ou não). E para que serve a casa? Repouso, recolhimento, intimidade, refúgio, prazer, conforto, lazer.

 

Eu não acho que uma casa esteja desarrumada se as camas não estiverem feitas, se houver casacos pendurados em cima de cadeiras, se houver livros ou discos em cima de uma mesa de apoio, se a manteiga estiver fora do frigorífico… Antes, a casa está marcada pelas experiências humanas a que se destina. É uma casa vivida.

 

As casas não podem estar impecáveis. As coisas nas casas não podem estar sempre nos seus sítios. É importante que existam cabides de pé. Que é para haver alguma roupa abandonada fora dos roupeiros. Já estive em casas com o chão a brilhar. Detesto. Tenho medo de escorregar. Há também umas pessoas que posicionam definitivamente os seus objetos de décor. E eu não lhes posso tocar. Para mim tocar nas coisas é fundamental. Certa vez peguei na mão de uma pessoa e encostei à minha pele do tronco. Toquei na pessoa com a minha pele do tronco. Foi assim que decidi que haveríamos de namorar com toda a certeza.

 

SURPRESAS


Tita

03.11.17

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O meu pai sempre me disse que é fundamental “ter os pés bem assentes na terra”. Só assim se pode ser nomeadamente corajoso. No princípio pensei que ele estava a falar de realismo: temos que olhar para as coisas como elas são e não como gostaríamos que fossem.

 

Mas não era disto que ele tratava. Antes, falava em contexto. No contexto pessoal. De ter a exata noção das regras e factos que, respetivamente, regem e determinam a nossa experiência de vida. Quer dizer, saber quem somos (no sentido de saber quais são as nossas capacidades) e ter a noção daquilo com que contamos. No fundo, poder viver sem surpresas.

 

E, com efeito, não gosto de surpresas que não sejam daquelas que ocorrem em datas festivas. Gosto das surpresas dos presentes de Natal e de aniversário. E é claro que também gosto daquelas surpresas que tornam as datas festivas. Por exemplo, reencontrar um amigo de abraço. De resto, não gosto de surpresas. Basicamente, não gosto de ser surpreendida. Não quero que me aconteçam coisas que eu não espero, portanto. Embora elas sucedam, ainda assim. Porque é a vida.

 

MARIA-RAPAZ


Tita

01.02.16

 

Há pessoas que parecem inseguras. Mas não são. São, antes, ansiosas. Tudo está na infância e a culpa é dos pais. Por ação ou omissão. Há pais que costumam castigar os seus filhos a sério sem nunca explicarem bem a razão do castigo e, pior, castigando sempre da mesma maneira, independentemente da gravidade da falta da criança. Deste modo, o problema das crianças que são vítimas assim está na falta de senso de graduação das coisas. Por causa disto tornam-se crianças ansiosas e, mais tarde, adultos ansiosos.

 

Como disse, para além das ações, os pais podem ser culpados por omissão. Embora, neste caso, muitas vezes sem culpa. Eu, por exemplo, fui vítima daquelas senhoras donas de casa impolutas filhas da mãe. Sempre que me apanhavam sozinha, chamavam-me a atenção para certas coisas que eu fazia e que, na ótica delas, eram desadequadas para uma menina. Assim, não devia subir árvores, jogar à bola com os rapazes e andar à pancada, por exemplo. Nunca fizeram isto à frente dos meus pais, pelo que eles nunca tiveram possibilidades de me defender. E portanto, não defenderam. Eis aqui uma omissão que me lixou. Com efeito, acabei por acreditar nelas, nas donas de casa, por serem pessoas adultas, e acabei por contrariar a minha natureza alegre, espontânea e expansiva. Deixei de ser uma “maria-rapaz” para me tornar numa menina bem comportada.

 

A adoção de comportamentos contranatura, que são comportamentos que contrariam a natureza das pessoas, de cada pessoa, provoca obrigatoriamente danos na autoestima e não só. Produz efeitos de natureza ansiosa. Quem não está na sua pele não sabe bem como agir.

 

Entretanto, uma pessoa cresce neste processo em que se habituou a sufocar os seus instintos mais primários e começa a apreender outras formas de reagir. Isto sucede com toda a gente. Mas as pessoas ansiosas, que, como disse, o são porque em pequenas assim as fizeram, têm uma dificuldade maior em andar à pancada por palavras calmas e certeiras. No entanto, aprendem como os demais. Embora com mais alguma dor.

 

AS FORMIGAS


Tita

29.01.16

 

Quando nos agridem devemos “dar a outra face”? O que quer isto dizer? Assim numa primeira abordagem parece significar que devemos aceitar uma agressão. E, além do mais, incentivar o agressor a agredir-nos novamente. Virar as costas não está aqui contemplado.

 

Por outro lado, talvez não seja assim. “Dar a outra face” é, eventualmente, antes pelo contrário, dizer “olha, não tens cacife para me abalar. Deste-me nesta face e nada de grave me aconteceu. Posso dar-te a outra para comprovarmos que não és capaz de me ferir severamente”. Assim, “damos a outra face”.

 

É preciso responder a uma agressão. E, sobretudo, é necessário saber responder. Temos que estar conscientes do tamanho da nossa dignidade. Uma formiga pode picar o dedo a uma pessoa. E dói um bocadinho. Se for daquelas com cabeça encarnada, acho eu. Mas, pelo amor de Deus, é uma formiga. Não vamos reagir contra ela para a esmagar. Basta um chega para lá no raio do inseto.

 

As pessoas precisam de agredir. Certas pessoas. Nos filmes sobre “serial killers” sempre me interessaram as motivações. Até que percebi que, na verdade, isso não interessa. Um “serial killer” é um sociopata. Um doente mental, portanto. As suas motivações são as de um louco. Não interessa saber porque é que ele ficou louco. Provavelmente já nasceu assim.

 

Os agressores do nosso dia-a-dia têm as suas motivações. Que não se fundamentam em atos diretos nossos. Podemos ser agredidos por inveja ou por frustração de coisas da vida. Ou pelas duas razões. O que interessa é saber responder à agressão, dando a outra face, afastando a formiga com uma sapatada. Para tanto, é necessário enfrentar. Se eu quero dar uma sapatada numa formiga, tenho de olhar para ela. Senão não sei onde estará. E depois ir lá com o outro dedo para lhe dar o piparote. Isto tudo sem sentir raiva. Porque não se sente raiva de uma formiga. A raiva provoca o sistema nervoso, fazendo as mãos tremer. Ninguém treme por causa de uma formiga.

 

OS VAZIOS


Tita

27.01.16

É claro que todos nós, se temos saúde, devíamos andar sempre contentes por ter saúde. Mas não. A saúde só está em primeiro lugar nas nossas prioridades quando há falta dela. No mais, existe a vida pessoal e a vida laboral. Acabei de dizer uma frase feita. E feita há muito tempo. É daquelas frases antigas. Do tempo das nossas avós quando já eram avós.

 

Toda a gente sabe que, se excluirmos as horas em que estamos a dormir, passamos mais tempo a trabalhar do que a viver o que, em princípio, mais nos importa. Coisa que nos devia chatear. E chateia. E só não chateia a quem viva um vazio e o trabalho lhe sirva também para o preencher.

 

O vazio está cheio de problemas para resolver, como as contas para pagar, os filhos para educar, a mulher ou o homem para aturar (ou a falta de todas estas coisas).

 

Há vazios de tal maneira grandes que as pessoas até se metem na administração do condomínio ou na astrologia.

 

Para além de uma certa tristeza, o vazio causa ao próprio principalmente irritação no local de trabalho. Porque o trabalho é coisa muito séria. Que isto não é só ir para ali à espera do ordenado no fim do mês.

 

As pessoas que se entregam ao trabalho da maneira irritada descrita sabem tudo sobre o respetivo ambiente. Sabem o que existe e sabem o que imaginam. Normalmente arranjam conflitos porque têm que dar forma emocional e emocionante às suas vivências ali. Baseiam-se quase sempre em mal entendidos que começam por conceber. E chateiam sempre os colegas. Também não gostam que os outros sejam bem-sucedidos. Porque consideram que dão tudo da sua vida por aquele trabalho. E se alguém merece ser recompensado, é o frustrado. Assim, revelam-se também invejosos e intriguistas.

 

Estas pessoas são essencialmente patéticas e basicamente umas chatas. Por isso cansa imenso ter que lidar com elas.

 

NOSTALGIA


Tita

26.01.16

 

D. Amélia ligou-me há uns dias. Chovia. Vão trocar-lhe o local de trabalho. Eu respondi-lhe que não se podia fazer nada porque, nas condições em que a entidade patronal ia fazer as coisas, estava a agir dentro da lei. Chorou. Não sabia o que havia de fazer. A troca é para Alfragide. Da Amadora para Alfragide. Eu perguntei-lhe se não seria melhor ir para Alfragide. “O que fica mais perto? Alfragide ou a Amadora”? Se calhar é Alfragide. “Veja lá”. Mas ela estava desconsolada. Não sabia o que era mais perto nem se tinha informado dos transportes. “Não Senhora Doutora, eu assim meto a carta!”. E eu: “Não faça isso. A D. Amelinha precisa de trabalhar, pelo amor de Deus!”. E ela: “Olhe Senhora Doutora, eu não quis tomar nenhuma decisão sem falar com a Senhora Doutora mas agora, depois do que a Senhora Doutora me disse, eu vou conversar com o meu filho e meto a carta”. Pedi-lhe mais umas vezes para não “meter a carta”. Disse-lhe para falar com o filho. E lamentei não poder ajudar mais. Ela desligou muito desiludida comigo. E com razão. Tinha esperança em mim. Choveu durante mais uns dias.

 

Depois de semanas a fio de chuva praticamente sem descanso, os dias estão melhores. Vê-se bem o sol. A humidade já doía nos ossos muito para além do frio. Há uma certa alegria que se instala. Talvez não chegue bem a ser alegria. Eventualmente são melhoras na disposição das pessoas. Muitas vezes aplica-se a palavra “nostalgia” para falar de recordação e saudade. Como na “Rádio Nostalgia”. Mas eu acho que “nostalgia” é, além do mais, uma tristeza que se sente vinda de lado nenhum. Não voltei a falar com a D. Amélia. Mas tenho esperança que não tenha "posto a carta".

 

RENASCER


Tita

25.01.16

 

Finalmente no sábado não chovia. Fomos ao Guincho depositar as cinzas de uma mulher muito importante. Mesmo que chovesse, tínhamos ido igualmente. Mas ainda bem que não foi assim. Ela ficou no cimo ao pé de uma árvore a ver o mar. Marcou-se a árvore para não esquecer. Tinha três troncos. Mas era pequenina. Foi escolhida por ser nova. Mas também por ter algum vigor.

 

Nunca me imaginei a transportar cinzas. Aquilo vem num recipiente de metal um bocado pesado. Levei-as no carro junto aos pés. Ia ao lado. E como que afagava aquele corpo com as minhas pernas.

 

Eu quero sempre fugir das coisas que me aproximam de fenómenos que me assustam.

 

Agora morreu esta mulher importante. Foi preciso afastar a morte dela. A melhor forma que se encontrou foi transformá-la em cinzas. E depois foi deixá-la ao ar livre num sítio bonito. Assim parece que está viva outra vez. Só que recolhida em algum lugar que ela escolheu. É esta a impressão que dá.

 

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