A ESTUPIDEZ QUE MAGOA
Tita
24.04.20
O padrão normal (e principal) que nos guia na identificação de idosos é a idade. A idade é achada através de uma operação matemática que envolve o ano do nascimento e o ano atual. Porém, na verdade, a idade de cada pessoa é o que a maior parte das outras entende que é. De maneira que, ao que consta, e independentemente do aspeto que possa ter e das “habilidades” que faça, depois de ultrapassar os 70, um individuo torna-se idoso.
Ora, em meu entender, a palavra idoso é absolutamente detestável, apesar das boas (?) intenções supostas. Um dia, se tudo correr dentro da normalidade, vamos ter mais de 70 anos. Haveremos de ser idosos. E como vamos odiar saber isso! Um idoso é um individuo de muita idade. Muita idade! Não com muitos anos de vida, como se canta nos "parabéns a você", note-se. Idade demais, pois. Demais. Porquê? Para quê? Talvez para estar vivo. Artroses demais. Comprimidos demais. Despesa social demais. Demasiada tristeza. Porque ser idoso é ser doente. Então, todos os doentes são idosos. Todos os inúteis são idosos. Porque todos os idosos são inúteis.
Realmente as generalizações sociais são decisões mentais, na generalidade, estúpidas. De um género de estupidez que magoa, faz mal. Esquecem sempre os ângulos concretos da vida. Tenho a certeza de que a grande maioria das pessoas incluídas no escalão etário dos idosos, não o são. Doentes, inúteis ou pobres de espírito. E, ainda que sejam tudo isto, ainda que vivam estas situações, não são idosos. São apenas doentes, inúteis ou pobres de espírito. Embora eu não acredite em pessoas assim. Só, talvez, em doentes. Nunca em pessoas a mais. Com que direito nós declaramos que certas pessoas têm idade demais?