AZUL - Cap XXII
Cat2007
21.09.16
Madalena: Entra.
Teresa entrou. Deu dois passos. E estacou à frente dela. Fez menção de dizer qualquer coisa. Porém, Madalena puxou-a pela mão com calma.
Madalena: Vamos para dentro.
Para o quarto. Iam par o quarto. Teresa foi obediente.
Madalena: Despe-te.
Teresa principiou a tirar a roupa. Muito devagar e em silêncio. Havia uma luz fraca de tom alaranjado que incidia sobre a parede junto à cama. E que dava saliência às sombras, projetando-lhes os movimentos. Porque Já era noite. A cama estava aberta. Mas perfeita. Tudo tinha sido preparado. Madalena despia-se também. Em silêncio. Concentradas no que faziam, abstraiam-se uma da outra. No fim, olharam-se fixamente nos olhos alheadas da nudez que lhes envolvia os corpos. Estavam muito sérias. Depois movimentaram-se em direção à cama. Deitaram-se. O beijo foi demasiado longo. Por isso apaziguou a paixão. A saliva que se misturou atuou como uma droga potente. E as pernas ficaram dormentes. E as mãos afrouxaram pela falta de força nos braços. Ficaram lado a lado e pregaram os olhos no teto. Sem falar. Num movimento aguardado, deram as mãos.
Madalena: Estive o dia todo à tua espera. Só para ficar assim contigo.
Teresa: Hoje também quero assim.
Madalena: Sabia que vinhas.
Teresa: Claro que sabias. Tu sabes a forma perfeita de como eu te quero.
Madalena: Não. Por acaso isso não sei. Nem sei a forma perfeita de como eu te quero. Apenas conheço as fórmulas da nossa química atual. Por isso não temi que não aparecesses hoje.
Teresa: Também porque eu tenho vindo sempre.
Madalena: Sim. Tens vindo sempre. Por causa da química, como disse.
Teresa: E não temes? Eu temo.
Madalena: Não temas. Eu, atualmente, não posso ir a mais lado nenhum.
Teresa: E depois?
Madalena: Depois não sei.
Teresa: Mas eu creio que já sei.
Madalena: Não. Estás só confundida. A paixão faz isso.
Teresa: A paixão parece que é amor?
Madalena: Sim.
Teresa: Mas se eu nunca deixei de te amar.
Madalena: Isso não é possível. Porque eu deixei de te amar.
Teresa: Isso não é verdade. A verdade é que tens medo de mim. Não acreditas em mim.
Madalena: Não acredito, claro. Mas deixei de te amar.
Teresa: Porque perdeste a inocência. Eu não perdi a minha.
Madalena: Pois não. Os maiores tormentos foram os meus.
Teresa: Já sabemos isso. Não vamos descer outra vez do céu ao inferno. Hoje não.
Madalena: Não. Hoje não. Estive cansada até agora. Precisava de descansar em ti.
Teresa: O que te cansou?
Madalena: Tu sabes. Tudo. Tudo nos cansa. Tudo é mais difícil de fazer. Tudo o que não tenha a ver contigo. Sei que sentes o mesmo.
Teresa: Tu pareces saber tudo o que eu sinto e penso.
Madalena: É da experiência, querida.
Teresa: É da química.
Madalena: Quem disse isso fui eu.
Teresa: Eu aprendo depressa, querida.
Madalena: Ao contrário. Tu não aprendes de todo. Andas há vinte anos para aprender sobre ti própria, sobre quem és. E ainda não sabes de nada.
Teresa: Enganas-te. E tanto te enganas, que vou contar à Clara sobre nós.
Madalena ergueu-se.
Madalena: Lá vem o disparate.
Teresa: Pronto. Lá se estragou o momento.
Madalena: Pois claro. Tu és especialista em criar infernos. Para que vis dizer à miúda?
Teresa: Eu não posso continuar a mentir à minha filha. Tu podes não estar certa do que sentes. Eu sei o que quero. Quero-te.
Madalena: Queres viver comigo?
Teresa: Não. Isso ainda não sei se quero. Isso sei que tu não queres. Porque, afinal, não me amas. Agora, tenho a certeza de que isto não vai acabar tão cedo. E não posso continuar a mentir à minha filha. A nossa relação não é assim. Na nossa relação não há mentiras.
Madalena: Teresa, lembras-te que ela é amiga da Joana? A tua filha deve saber da minha estória com a Joana. A Clara deve saber perfeitamente quem eu sou. Como é que ela vai conceber que a sua própria mãe anda agora com a ex-namorada da amiga? Olha, Teresa, esquece essa ideia. Deixa a tua filha em paz. Anda, veste-te. Vamos jantar.