AZUL - Cap XXXV
Cat2007
28.09.16
Quando Teresa chegou a casa, Clara já lá estava. Como sempre. Esperava por ela estendida no sofá. Via televisão. Como se não tivesse estado a tarde inteira com Joana. Teresa passara a noite com Madalena. Agora estava em casa para jantar com a filha e passarem o serão juntas.
Teresa: Olá, meu amor.
Clara: Olá mãe. Vem cedo para o que é costume.
Teresa: Queria estar contigo. Tenho saudades tuas.
Clara: Pois. Eu também. Mas a mãe agora resolveu passar as noites fora.
Teresa: Eu não passo as noites fora, Clara. Fico algumas noites fora.
Clara: Nunca a mãe passou tantas noites fora. Além disso, acho-a diferente.
Teresa alarmou-se
Teresa: Como assim, menina?
Clara: Anda diferente. Dá a impressão que está um bocado distraída.
Teresa. É curioso que digas isso. Porque diferente estás tu. Pareces um bocado apática. Além disso, deixaste de usar pijama.
Clara: Estou apática porque estou em época de frequências. Mato-me a estudar. E não deixei de usar pijama.
Teresa: Não? Então explica-me esses calções curtíssimos e essa camisola de alças. Estamos em pleno inverno.
Clara: A mãe sabe perfeitamente que não faz frio aqui em casa. Temos o ar condicionado.
Teresa: Mas porque deixaste de usar pijama? Desde pequenina que tu adoras vestir o teu pijaminha.
Clara: Está bem, mãe. Deixei de usar pijama. Porque já não sou pequenina. Aliás, sinto-me bastante mais crescida.
Teresa: Sim? E o que te fez crescer assim tão de repente?
Clara: A idade, mãe. As coisas acontecem com a idade.
Teresa: Não estejas a brincar comigo, menina.
Clara: Sabe bem que eu tenho demasiado respeito por si. Jamais brincaria consigo. Além disso, a mãe mudou de assunto. Quem começou por dizer que estava diferente fui eu. Até parece que disse alguma coisa grave.
Teresa: Deixa-te de imaginar coisas. Eu não estou nada diferente. Eu sou uma pessoa equilibrada e constante, tu sabes.
Clara: Sei. Mas creio que desta vez, como em vez nenhuma do passado, a mãe está seriamente apaixonada.
Teresa: O que sabes tu de paixões, garota? Que eu saiba, nunca te apaixonaste na vida. Só estudos e desporto…
Clara: A mãe não tem que me explicar nada. Eu compreendo que tenha um namorado. E fico contente por estar apaixonada. No mais, não quero saber quem é. Não é preciso. A menos que a mãe esteja tentada a fazer o inédito: assumir uma relação.
Teresa: Muito bem, é verdade. Estou apaixonada. Mas não me passa pela cabeça assumir nada. Por isso não vale a pena contar-te seja o que for.
Clara: Tenho alguma curiosidade, confesso. Mas respeito-a.
Teresa: E tu, quando arranjas um namorado? Está mais do que na altura.
Clara: Ora, a altura certa é quando acontece, como sabe.
Teresa: E nada acontece?
Clara: Só posso dizer-lhe que sou alheia ao que sucede.
Teresa pensou que Clara lhe dizia que ainda estava à espera de se apaixonar.