CONSCIÊNCIA PROBLEMÁTICA
Tita
31.10.17
Sempre tive problemas de consciência em relação a tudo o que tenha a ver com as minhas pequenas ou grandes prevaricações. Sejam por ação ou por omissão. Por exemplo, lembro-me de ser pequena e roubar por uma única vez uma laranja numa loja de rua. Fiquei toda a tremer no e no após o ato, sendo certo que, ato contínuo, deitei fora a laranja e fui para casa chorar e rezar, pedindo mil perdões a Nosso Senhor pelo imenso mal que tinha feito. Isto malgrado ter uma colega que todos os dias praticava o ato e comia a laranja muito satisfeita à minha frente.
Relacionado com o antedito estará o facto, calculo, de, na altura, ir muito à missa com os meus pais. Em criança era obrigada a ir à missa, pois. Claro que me distraia imenso enquanto lá estava porque aquilo não é sítio para crianças. Mas o certo é que, mal ou bem, assimilei os princípios estratégicos do catolicismo. Assim, aprendi que não podia sair da linha. Senão ia para o inferno. Ora, a expetativa do inferno consubstancia-se já em parte do inferno em si. É por isso que tremia. E ainda tremo quando faço alguma. Mesmo que seja ligeira e compreensível. Mesmo que não seja apanhada. De qualquer maneira, não consigo abstrair do ar de satisfação das inúmeras pessoas que eu vejo a comer a laranja.