DESÉTICA
Cat2007
23.11.21
Aristóteles
Pois bem, volto à “vaca fria”. Terminada “às três pancadas” a minha psicoterapia de dez anos pensei que talvez pudesse ressentir-me. Por isso resolvi procurar um psiquiatra. Só para ponto da situação. E jamais querendo voltar a “casar”. Desejava somente um plano da situação. Um enquadramento. Talvez: “Olhe, vai sofrer um bocadinho, mas nada de muito grave lhe acontecerá”.
Esperava ouvir este statement de um profissional habilitado. Para ficar descansada e ir à minha vida em paz e liberdade. Largar as “bengalas”. Que usava como se não pudesse andar muito bem, e não era verdade. Na verdade, há muito tempo que sabia que não precisava destas bengalas, mas, por esta ou aquela razão, talvez principalmente por preguiça, não me desfazia delas.
Bem, comecei logo por estranhar o facto de não me ser perguntado o que se passava exatamente comigo e como me sentia, pelo que mal pude expor a situação. No entanto, o homem entrou logo a dizer que eu poderia ter some issues do foro mental. Feita parva, fiquei um bocadinho assustada. Mas, no entanto, se ele não me ouvia, não me questionava, como poderia estar a fazer diagnósticos?
Comecei a sentir que poderia estar em frente a uma espécie de vidente. De maneira que preguntei com simplicidade como podia ele tirar tais conclusões sem saber nada de mim. Deu-me a entender que tinha “olho”. Era muita experiência, muita competência! Fiquei a pensar que também tenho muita experiência e competência no meu trabalho, mas que não consigo dar um parecer de jeito sem ir estudar o assunto. Além de que, sem dados, não é possível fazer coisa nenhuma. Mas não lhe disse destes meus pensamentos. Até porque começava a desconfiar dele e ele, por seu turno, não me deixava falar.
Depois de o estar a aturar com as descrições de algumas das diversas viagens que adorou fazer, das suas habilitações e cargos profissionais, das casas no estrangeiro, e sobretudo, após observar o gesto de bater no peito e afirmar “eu sou psicoterapeuta”, conclui que que estava em face de um verdadeiro vendedor. Sem o dizer diretamente, acalentava a esperança de fazer-me psicoterapia no seu consultório das Torres de Lisboa. Pois. Confidenciei-lhe que, não voltaria a fazer terapia nenhuma, mas que, caso, entretanto, sentisse uma séria pulsão de assassinar alguém, por exemplo, poderia voltar lá ao consultório.
Há pessoas que são tremendas! O mundo é o seu mundo. Falam de si próprias. Para se ouvir, por um lado, e, por outro, para vender o seu produto. Seja ele qual for. Há pessoas que estão sempre a querer vender-se e nunca a dar-se. E pouco importa o interesse real do potencial comprador. Há pessoas que estão sempre no registo das vendas pela TV. Produtos únicos, inovadores e muito úteis ou supostamente muito belos e valiosos por um especial preço, que pode, caso seja necessário, ser pago em suaves prestações mensais, e, se telefonar nos próximos 5 minutos, ainda leva grátis um cachecol da seleção nacional de futebol ou uns bonitos óculos de aviador que já não se usam.