E HÁ TANTO CAMPO EM MIM!
Tita
25.07.22
Creio que ser do hipocampo significa pertencer às memórias. Às suas próprias memórias. E às memórias de quase toda a gente. Incluindo as memórias recentes. Dela e nossas.
No outro dia vinha no carro e apareceu esta música incontornavelmente feliz. Onde, de repente, impõe-se ali o verso “e há tanto campo em mim” a seguir ao hipocampo. E, de repente, aconteceu-me começar a cantar também. E a rir. E a bater com as mãos. Eu, que até estou numa fase em que ando um bocado chateada. Não me imaginaria a cantar na voz da Lena D’Água. Na voz de ninguém. Não me imaginaria a cantar. Ponto. Porque, como disse, ando chateada.
Só que hoje estou muito menos chateada do que estava naquele dia. É que, desde esse dia, ouço todos os dias o “Hipocampo” e sinto mesmo que “há tanto campo em mim!”. É tão bom ir buscar de onde somos, o que vivemos, o que fizemos e perceber que ainda temos em nós tanto para fazer e para dar. Há tanto campo em nós!
Depois, vamos ver. Como era ela no passado. Passamos vídeos e músicas por nós. Era linda! Pois. Mas muito mais do que isso, era um talento. Uma voz. Uma grande artista. Que um dia desapareceu. Escondeu-se. Fartou-se ou não aguentou mais tudo. Sabe-se que sofreu muito. Creio que todos, os que pensámos nisto, acreditámos que se tinha perdido dentro de uma casinha modesta que ficava depois, muito depois, do Campo Grande. Ali a meia hora de Lisboa num local onde ninguém compreende como chegar. A não ser os seus gatinhos. E também os cães.
Esteve por lá anos e anos. Demasiados para quem tem de criar e dar. Para quem tem um dom. É verdade que muitas pessoas extremamente dotadas fazem isto. Aguentam dentro de si tudo o que têm mesmo de dar. Entram neste processo contranatura. E evidentemente sofrem muito assim. A achar que podem resumir a própria existência a si mesmas.
Só que não podem. Pelo menos, a Lena D’Água não foi capaz. E voltou a falhar num projeto. Para voltar a vencer na vida. Aqui está de novo. É do hipocampo e tem tanto campo em si! Que bom encontrá-la assim bonita e talentosa como sempre. Que bom que ela está aí para nos ajudar a acreditar que há sempre tanto campo em nós.
Obrigada, Helena!