Manoel de Oliveira nunca se interessou pelas pessoas normais que vão ao cinema
Tita
03.04.15
Parece que o tempo vai mudar. Dão chuva para a semana. Morreu o Manoel de Oliveira. E eu não sei muito bem o que pensar sobre o assunto. Afinal morreu uma pessoa. Tinha 106 anos de idade, é certo. Se olharmos por aí poderemos dizer que é a lei anti-natural das coisas. Ninguém dura tanto tempo. Mesmo que existam mais uns quantos fenómenos destes pelo mundo. Mas não é possivel ficar indiferente à morte de uma pessoa. Por isso lamento que ele tenha partido.
Certa vez olhei para o cartaz promocional de um filme francês do Manoel de Oliveira. Estava um casal de idosos sentado à mesa de um jantar (presumo eu, que iam ou estavam a jantar). Achei, foi quase uma certeza, vi como que iluminada, que o filme era aquilo. Aquela cena, apenas. Filmada de vários ângulos. Possivelmente sem falas. Uma ou duas lágrimas. Dois ou três sorrisos. Três ou quatro movimentos de mãos. Quatro ou cinco...bocejos do (certamente pouco) público. Realmente não me interessa falar do Manoel de Oliveira enquanto cineasta porque considero que ele também nunca se interessou pelas pessoas normais que vão ao cinema. E, no entanto, o que importa é que ele tenha sido feliz a realizar os seus filmes.