O DIA DOS DIAS
Tita
25.03.20
Estou há uma semana em teletrabalho. Portanto, em casa. Todos os dias saio. Duas vezes por dia. Dois passeios com o cão, de meia hora cada. Também falo ao telefone com a família e amigos, que não vejo desde que estou confinada. Nos passeios, afasto-me de toda a gente por mais do que os dois metros indicados. Ainda só fui duas vezes ao supermercado e uma vez à mercearia. Mas tenho em casa mais quem lá vá. Consulto o telemóvel de dez em dez minutos para sentir o pulso à crise portuguesa e mundial. As notícias são, em termos gerais, más, como bem sabemos. Faço ginástica em casa e exercícios de respiração. Ainda não peguei num livro não técnico porque, para dizer a verdade, não me apetece fantasiar por aí.
Nesta rotina diária perfeita que se repete perfeitamente em cada dia que vai passando muito devagar, sinto-me de alguma forma segura. Porque não há surpresas. Porém, às vezes penso na realidade em termos crus. Para perceber exatamente que me encontro em negação. E, por breves segundos, assoma-se-me a realidade que na realidade não percebo. Então, os pensamentos somem-se, projetando-me de volta ao meu universo descomplicado. E, em aparente contrassenso, acendo a televisão ou/e volto ao telemóvel para, como disse, acompanhar a pari passu as más notícias que vêm de lá.