O MEDO É TALVEZ A GRANDE CAUSA
Cat2007
07.11.16
Ter má opinião das outras pessoas enquanto posição de princípio é péssimo. De acordo com as melhores convicções, vícios, manias, inconsciências actuantes, do egoísmo puro, é péssimo ter má opinião generalizada do outro, dos outros. Atrapalha os movimentos. Impede o fluir natural da vida própria. Provoca angustia por virtude da dúvida e, até, do medo. Numa (ou mais do que uma) palavra é um veneno para a espontaneidade e uma barreira para o amor recebido porque dado (qualquer género de amor, embora o amor profundo seja de um só género e possa acontecer em qualquer contexto, sentido por nós em relação a qualquer pessoa - basta excluir o desejo sexual desta impressão para se compreender como é verdadeiro e único o amor sentido na alma, o que dá vida).
Pensar mal das outras pessoas, enquanto ponto de partida para a vida abre à solidão o caminho para o nosso espírito. Quanto mais longe do outro, mais distante de mim. Não sei se alguém já disse isto. Pode ser. Não sei. Eu digo. O bom egoísta, ou o discípulo de Adam Smith, aquele que acredita na mão invisível, acredita igual e forçosamente na bondade última do egoísmo. Eu procuro o melhor para mim e, nessa busca, contribuo para o bem dos outros e de todos. Dito de outra forma, o bom negócio é aquele que trás vantagens para ambas (ou todas, se forem mais que duas) partes envolvidas. O mau egoísta é estúpido.
Pensar mal dos outros sem dados objectivos, sem vivenciar a dor pungente de um murro nos queixos ou, pior, sem o sentido da experimentada fina agudez de uma facada nas costas, não é também correcto nem justo. Atrapalha as forças de mercado na sua actividade. Esta é uma das razões pelas quais não existe mercado em concorrência perfeita. Vejamos, então, as razões da razão: falta de informação, preconceito, desjustamento de interesses (também dos interesses próprios), ignorância das necessidades, desconfiança quanto ao valor das coisas e incertezas sobre o que se tem para dar em troca num mercado de trocas.
O medo é, eventualmente a grande causa. A causa que antecede todas as outras razões. O medo. Talvez, primeiramente o instinto de sobrevivência desfocado pelo medo. O medo é uma espécie de edificio macabro. Uma casa assombrada. Não sei. É uma ideia. O medo começa por nos colocar a questão de termos medo. Por medo não agimos. Por medo paramos de agir. Por medo ficamos em casa. Por medo saímos de casa para ficarmos parados na rua junto a uma esquina qualquer. Sem a dobrar. O medo dá medo do medo. A paragem de vida dá-se pelo medo do medo sem saber do que se tinha medo. É do medo.