O MEU GANHA-PÃO
Cat2007
08.04.20
Levantei-me relativamente cedo. Era para começar a fazer um trabalho aparentemente mais ou menos difícil com prazo para hoje. Por isso estava a sentir as minhas habituais resistências. Sempre que surge alguma tarefa que, do ponto de vista da realidade das coisas, possa parecer intelectualmente mais exigente, quero logo fugir. É que tenho de me concentrar. E isso para mim, para a minha cabeça indisciplinada, dá muito trabalho. E eu não gosto. Por outro lado, gosto muito, tenho o vício, aliás, de andar com os pensamentos como vento a soprar de certo modo enérgico sobre a areia leve no deserto. Importa-me o molde das dunas. As subidas, as descidas e as curvas. E depois o modo como tudo se altera. É por isso que não tenho muita paciência para estar devotamente concentrada em contextos (e textos) que, dada a respetiva natureza, são tendencialmente tão imutáveis como o andar das tartarugas. Não obstante, comecei fazendo planar (à força) o pensamento. É disto que eu vivo. De ver andar as tartarugas. Segui, então, pacientemente o caminho em linha reta de uma de tamanho médio. Apesar de tudo, no fim da manhã a reptília cruzou a meta.