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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

PAI, EU FUMO


Tita

29.09.16

 

Comecei a fumar com 16 anos (um horror, bem sei). No princípio, menos de meia dúzia de cigarros por dia. Assim, fumava tudo o que tinha para fumar na rua. Sem sentir qualquer tipo de necessidade quando estava em casa. Não obstante, andava sempre preocupada com, por exemplo, o cheiro da roupa e dos cabelos. Tinha medo de ser descoberta pelos meus pais. Sobretudo pelo meu pai. Um grande autoritário. Que às vezes me metia medo -  vem a propósito dizer que eu não sabia que o meu pai já tinha sido um fumador inveterado. E que tinha largado o tabaco há cerca de 10 anos. Na verdade, ele fumava cerca de três maços de cigarros por dia, sendo certo que eu nunca o vi fumar.

 

Bom, mas para o que importa, importa dizer que eu não me sentia bem com aquilo. Aquilo da marginalidade. A minha cabeça inconsciente não via onde estava o mal em fumar, pelo que não compreendia porque tinha de esconder. É verdade que sou transparente. E franca. Que detesto viver na mentira. E sobretudo não aguento ter de lidar diariamente com o medo. Assim, cheia de medo fui falar com o meu pai. “Pai, sabe que eu fumo? Não fumo muito mas fumo”. Ele não estava à espera de tamanha frontalidade. Se fosse ele a descobrir, seria o diabo. Porém, como era eu quem contava, ficou um tanto desarmado. “Não digas disparates. Não fumas nada”. E eu: “Fumo, fumo”. E ele: “Então deixas de fumar”. E eu, num atrevimento inusitado: “Mas eu gosto de fumar. Olhe, pai, eu fumo e estou a contar-lhe. É a única coisa que eu faço contra as regras do pai. Mas se me der autorização, é diferente. Deixa de ser contra as regras. Saiba que comigo pode sempre contar com a verdade. Nunca hei-de fazer nada nas suas costas”. Creio que ele aceitou porque já andava preocupado com a eventualidade de começarem a surgir namorados. Gostou, portanto, de saber que tinha uma filha que não lhe mentia.

 

Dois anos mais tarde. Aconteceu-me outra coisa que era contra as regras. Contra as regras de toda a gente. Por terror, por vergonha e por causa de uma certa confusão que se instalou em mim, não lhe contei. Acontece que ele descobriu. Era, de facto, contra as regras de toda a gente, porém, ele gostou da ideia. Eram regras que nunca lhe tinham ocorrido. Gostou da ideia. E disse-mo. Fiquei incrédula, a princípio. Envergonhadissima também. Mas, depois, com o tempo, começei a andar incomparavelmente mais leve.

 

Tudo isto a propósito de contar as coisas a quem nos importa.

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