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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

PRAZER


Tita

12.01.16

 

 

Tenho a consciência de que as pessoas doentes residentes no Hospital Júlio de Matos estão muitíssimo medicadas. A medicação afasta os infernos individuais. Mas quando atua, só deixa o vazio. Todas as que podem sair arrastam os pés e andam tortas. Se não fosse a medicação não podiam andar cá fora tortas e a arrastar os pés. É assim o melhor que se pode arranjar.

 

Na mente destas pessoas, quando interagem com o próximo estão duas ideias guia: cigarros e café. Pedem as duas coisas. Cheguei a pensar que o faziam pela força do hábito de querer abordar os outros, com a noção de que incomodam, e ter que pedir qualquer coisa para disfarçar. Uma ideia um bocado estúpida de quem não queria pensar. Mas agora que penso um bocadinho mais detidamente sobre o assunto, concluo que se trata da busca do prazer.

 

No Júlio de Matos, enquanto se anda sem destino muito definido, anda-se à procura de prazer. Mas afinal o destino é bem definido. O destino são as outras pessoas. Os não residentes. Na esperança de que estes possam proporcionar prazer. Um café e um cigarro. Coisas acessíveis que qualquer um pode dar. Nada de pedir sexo ou whisky, por exemplo. Isso é para os não residentes.

 

Os residentes do Hospital Júlio de Matos não são inconscientes. Sabem sobre a medida das coisas. Se fossem inconscientes, seriam talvez felizes. E podiam pedir tudo o que quisessem. Mas não. Têm uma consciência. Um café e um cigarro. Pode ser dinheiro para o café ou pode ser um cigarro para juntar aos outros que também foram pedidos. É para fumar mais tarde.

 

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