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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

PRECISO DO MEDO PARA ME DAR CORAGEM


Tita

18.11.23

 

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Já dependi bastante de outras opiniões. Assim para moldar a minha conduta. A ver se conseguia ser bem aceite e integrada nos grupos obrigatórios a que, como toda a gente, fui pertencendo (na escola e no trabalho, pelo menos), bem como na sociedade em geral.

No entanto, nunca fui assim de essência. Porque sou bastante sensível, lúcida e, por consequência, detalhada na análise. Desde cedo, muito automaticamente, dizia e fazia, em qualquer circunstância, o que me parecia melhor e mais correto.

De maneira que, por exemplo, não compreendia a ideia de estar em pequenos ou um pouco mais alargados grupos que voluntariamente se constituíam na escola primária, secundária e universitária, organizados por temas, dado que a “união faz a força”, sabe-se lá para que efeito útil naqueles contextos.

Claramente, estou a referir-me a banalidades. A coisas que não têm um objetivo que preste, e existem por causa da insegurança e de alguns valores duvidosos das pessoas. Na verdade, dos pequeninos nadas de que a vida é feita.

Bom, em dada altura da vida, por causa de certas dores muitíssimo dolorosas, dei por mim confusa. Por isso duvidei. Devia continuar a fiar-me em mim ou o melhor seria adaptar-me melhor às ideias, à forma geral e de estar dos outros?

Vendi a alma, então. Senão ao diabo, pelo menos, aos diabretes que por aí andam. E, como nada batia certo com o meu próprio entendimento e valoração das coisas, fui experimentado internamente recorrentes conflitos difíceis de gerir. Tornei-me, portanto, numa pessoa um bocado receosa e bastante insegura.

De facto, quando começamos a viver o que não somos, acreditando, ainda que artificialmente, que é o melhor para nós, acabou-se a autoestima, a confiança e, por consequência, a paz pessoal.

Durante anos, andei a viver metade de eu. Até ao dia em que, nitidamente, já não dava mais para mim.

Voltei tudo para trás, portanto. Que não ficava ali muito longe. Bastou apenas voltar à minha cabeça e ao meu coração para lhes restituir a confiança e a liberdade. Lembrei-me que, no tempo em que era assim, fui muito feliz. E agora, graças a esta inversão de marcha, voltei a ser.

Anoto-me de novo integra. Observo que esta minha integridade nada tem a ver com a adoção de novas atitudes, desta vez, ditadas pela religião e pela moral. Era o que faltava! Fazer diferente para ficar na mesma. A minha integridade é constituída pelo universo inteiro do que sou e ao que pertenço. É com isto que vivo e quero viver. Sem chances para qualquer outra coisa. A felicidade tem um preço. Já comprei.

Não deixo nada do que é meu e posso transportar esquecido, negligenciado ou só adormecido. Preciso de tudo de mim porque a vida não é realmente fácil e o denial há de acabar por nos lixar.

Somos rebaixados na exata medida da nossa altura (ou até mais). Duvida-se da nossa palavra com toda a leveza que tem o oxigénio. Perturbam-se os nossos bons propósitos e projetos com a intriga que funciona sempre e a mentira desavergonha. E, pior, também perdemos a nossa pessoa.

Assim, surge um desânimo, uma dor forte e uma carência afetiva aguda, uma dureza, uma espécie de solidão, não é? Por vezes, chora-se. O que fazer? Nada a fazer. Siga. Continua-se a viver sem andar por atalhos. Recorremos à força e coragem que tivermos. E mais nada. O que não der, não deu. Aqui ninguém é culpado de nada se tudo o que é e tem para dar não for suficiente.

Eu, como toda a gente, ou até mais que muitos, tenho medo. No entanto, sou feliz porque não lhe ligo muito. No mais, preciso dele para me dar coragem.

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