UMA RELAÇÃO DE VIVER
Tita
17.12.20
A certa altura da vida estava numa relação de viver. E tinha um pequeno cão. Este cão foi comigo para lá. Antes, podia dormir na cama e estar nos sofás. Depois, foi relegado para uma cama própria para cães. Não me lembro bem dos argumentos. Recordo melhor os gritos. E foi para não ouvir gritos que acedi. Claro que, quando eu e o cão estávamos sozinhos em casa, ele saltava para a cama e subia para o sofá. E assim passávamos horas até serem horas de a outra pessoa voltar. Chegada essa altura, eu depositava o cão na cama de cão, que deixava aos meus pés junto ao sofá. No entanto, a pessoa chegava e afastava a cama e o cão para longe de mim. Costumava revoltar-me com isto e ia buscar a cama do cão para ao pé de mim. E lá vinham de novo gritos. Por isso, às vezes, deixava o cão ficar lá onde fora posto. Acabei por deixar o cão mais vezes em casa da minha mãe onde era realmente feliz. E foi uma luz que se fundiu dentro de mim.
Mais tarde, estava em outra relação de viver. E um dos meus irmãos apareceu-me lá em casa doente. Vivia sozinho. Naturalmente, acolhi-o, deitei-o, mediquei-o. Porém, andava eu da cá para lá a tratar destas coisas, quando a pessoa me abordou na cozinha para me dizer que não o queria lá em casa. Porquê? Não me lembro dos argumentos. Só dos gritos. O meu irmão apercebeu-se e foi-se embora. Até hoje estou arrependida de não ter saído com ele naquele preciso momento.
De resto, a minha amiga de toda a vida nunca agradou a ninguém.
E no fim veio o verbo sufocar.