UMA VERDADE TRANSVERSAL SOCIAL
Tita
14.07.22
Apercebo-me de que gosto verdadeiramente de elogiar. Sempre que posso, faço-o. É que, em qualquer altura, uma pessoa é, mostra, demonstra ou faz coisas que nos fazem bem. Temos a obrigação de retribuir. Toda a gente precisa de um elogio. E isto não tem nada a ver com a (falta de) autoestima. Mas com a vida. É duro viver. Mesmo que sejamos pessoas felizes. Esta é uma verdade transversal social.
Por vezes, por exemplo, digo a alguém, mesmo que não conheça a pessoa, que tem uns olhos muito bonitos. Sem mentir e só por que sim. Sem interesse diferente que não seja o de observar o alívio naquele olhar que, em breves instantes anteriores, me surpreendeu como uma dádiva.
As pessoas andam cansadas. O que é terrível. O cansaço faz-nos desacreditar sobre o que quer que seja que fazemos. É bom quando alguém nos recorda que temos uns olhos bonitos. Sem pretender mais nada para além de os ver. Assim torna-se mais fácil voltarmos a nós, ao que somos. Elogiar alguém é quase como fazer um apelo ao seu espírito. E isto tem mesmo de ser feito. Porque é muito mais difícil viver quando, de alguma forma, vivemos distanciados de nós mesmos.
Gostava de ser professora. Embora não de crianças. Porque correm mais do que ouvem. E, se forem mesmo pequenas, não lhes podemos dar notas. Gostaria de ser professora se tivesse em mim qualidades, saber e sabedoria para ajudar gente a crescer, a evoluir, a ver-se melhor, a saber fazer pelos outros. Se fosse professora, sei que haveria de sentir-me muito cansada de cada vez que os referidos objetivos não fossem atingidos. Portanto, mesmo que fosse qualificada nos aludidos termos, talvez não tivesse alma para tanto.