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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

ALGO A MAIS OU A MENOS


Tita

19.02.16

 
 
 
 

Ontem a terapeuta disse que eu tinha algo a mais na minha educação que a generalidade das pessoas não tem. Eu respondi-lhe que “sem dúvida tenho algo a mais, o que eu não sei é se esse mais é bom”. Estava eu preocupada com questões de adaptação e análogas.

 

Na verdade, eu fui educada num ambiente cheio de gente com handicaps. Uns não andavam, outros não viam, outros eram surdos e, ainda outros, era doentes mentais.

 

Lembro-me de haver lá duas ceguinhas que estavam sempre a fazer croché. Vestiam de preto e tinham óculos escuros pretos. Não sei se também eram viúvas.

 

A minha preferida era uma avó de cabelos todos brancos e olhos muito azuis que a minha mãe me arranjou. Sendo que, por outro lado, eu era a neta que a minha mãe estava a oferecer à querida senhora. Era a Bubu. Porque eu não sabia dizer avó, naturalmente. Depois, quando já sabia, ficou Bubu na mesma. Para toda a gente. A Bubu era da psiquiatria. Mas nunca gritou nem fez nada de estranho.

 

Até hoje não sei porque estava ela na psiquiatria. Esqueci-me de perguntar à minha mãe. Eu sei que parece mentira. Mas é verdade. Para mim a psiquiatria não tinha nada de especial. Claro que havia sempre umas mulheres a correr de um lado para o outro com bonecas de trapo nas mãos e essas coisas assim. Mas tudo me parecia extremamente divertido.

 

O meu irmão António apaixonou-se por uma tetra e uma para (plégicas). A Antónia e a Manuela, respetivamente. Lembro-me que elas tinham direito a ter passarinhos no quarto. Tenho ideia também de serem ambas muito inteligentes. E o meu irmão adorava estar ali horas a falar com elas. Claro que a Antónia e a Manuela não eram doentes mentais. Eram só azaradas de uma outra forma.

 

Os meus irmãos mais novos gostavam muito da Leonor. Que, por sua vez, não podia andar porque tinha as pernas de plasticina. Uma poliomielite. Passavam tanto tempo com ela, que uma vez apareceram fotografados numa reportagem que uma revista qualquer foi lá fazer.

 

Enfim,voltando ao princípio, não sei se estas vivências são positivas para quem quer viver bem no “mundo real”. Uma pessoa cresce a pensar que é tudo normal, que somos todos iguais e etc. , e depois não é nada assim. Na “vida real”, verificamos que o ambiente é outro. Que a alegria é muito mais contida. Porque há sempre alguém a querer estabelecer a ordem.

 

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