OS PEQUENOS CANALHAS
Tita
01.12.20
Sei de um rapaz que, em criança e depois na adolescência, ouvia permanentemente elogios da mãe. O mais inteligente, o mais bonito, o mais forte, e por aí fora. Na verdade, aquela mãe, sem nunca demonstrar porquê, sem jamais o por à prova, dizia-lhe sempre que era o maior, sendo que ele se convenceu firmemente disso.
Claro que, desde muito pequenos e pela vida fora, temos de enfrentar os outros e as situações fora de casa. Sobretudo, a escola e, mais tarde, o trabalho e, claro, o amor. Assim, aquele rapaz descobriu que não era bem o que a mãe lhe tinha dito (o que, de resto, não existe). Que, afinal, era só uma pessoa como as outras, embora baixo e com pouco cabelo.
Então, deixara de acreditar na mãe, e, portanto, sentia raiva dela. Igualmente, enganava a namorada de há um ano porque, consequentemente, não confiava em mulher nenhuma que lhe tivesse afeto. E, por fim, não tinha boa relação com os colegas de trabalho por sentir-se sempre pressionado (por si mesmo, claro) a mostrar mais do que eles.
Apesar de perceber os seus problemas, compreendendo que sofria, não consegui sentir empatia. Um gajo que já não gosta da mãe, que engana a namorada e que faz a vida negra aos colegas de trabalho…
Como todos os que são assim, este era apenas um tipo que procurava a fórmula para sentir-se melhor com o que fazia. Para ser desculpado pelo que de mau praticava. Não tentava reinventar os seus afetos e, tão pouco, queria saber do valor da humildade.
Quero lá saber dos passados infantis, de pessoas atualmente infantis, mas que já são adultas. Não há nada pior do que um adulto-criança. Um pede-pede, mas não quer comer a sopa de legumes. Em suma, um pequeno canalha.