FALTARAM OS TRAPEZISTAS
Tita
23.12.23
Decido não mentir às pessoas. Não acredito em mentiras. Não fazem bem a nada. E, lá está, porque mentem.
Apesar da vida dura sentida nos ossos, nunca abandonaria um projeto, o trabalho e as pessoas. A missão, a responsabilidade, o compromisso, a ética, a solidariedade e a palavra dada são valores incontornáveis, sem os quais é impossível viver com dignidade.
É proibido desistir. Sobretudo quando um projeto se destina ao bem de uma instituição e das suas pessoas. A desistência equivale a uma traição. Que é o mesmo que falta de humanidade. Talvez a pior coisa que uma pessoa pode ser na vida. Traidor.
É indesmentível que muitas coisas que já esperava me apanham sem estar à espera. Este andar distraído tem tudo a ver com o facto de ficar entediada de morte com a energia das mentiras, traições, enredos e intrigas, que incidem sobre as pessoas com o intuito de lhes causar dano. Na essência, estes programas cumprem atividades de natureza semelhante às da casa do “Big Brother”.
Não tenho medo destas coisas, tenho sono.
Para além do tédio, um mundo intriguista de gente bastante infeliz e sem saída, também me faz-me rir de impaciência. Rir daquela forma triste e cansada, como, em crianças, riamos dos Palhaços.
De facto. Muitas vezes tenho pena das pessoas. Porque “ser de intrigas” é padecer de um de distúrbio afetivo crónico que faz sofrer muito.
A insegurança, os complexos e a desconfiança, aos mais altos níveis, com que estas pessoas têm de enfrentar os seus iguais nos seus dias diários… a baixíssima autoestima, que domina e a mina tudo… não é bonito de se ver.
É uma vergonha envergonhada que eu sinto das tropelias dos Palhaços de quando eu era criança.
Para ilustrar, conto a forma como principiei um início: “Estou aqui há [mil (?)] anos e sei os podres de toda a gente. Quando tiver um tempinho para conversarmos, conto-lhe tudo”.
Para quem aprecia o género, siga o espetáculo do “Maior espetáculo do mundo”. Como nos diziam e a coisa não encaixava.
Já me aconteceu antes sair do circo sem perceber muito bem a razão pela qual não vi os trapezistas. Deve ser porque não existe razão nenhuma.
Em pequena, os trapezistas mantinham-me a aturar um espetáculo deprimente porque tinha a certeza de que, a qualquer momento, eles iriam aparecer a voar.
Mas é verdade que há muitas vezes em que os trapezistas não vêm. E uma pessoa fica com imensa pena.