A igualdade é uma chatice. Porque as pessoas não são tratadas nem tratam os outros de forma igual em razão da ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Há aqui um problema entre o rapaz que transporta as águas e a senhora que serve as mesmas (e os cafés) nas reuniões. Ele entende que apenas deve trazer as águas até ao piso, competindo a ela arrumar as garrafas no armário próprio. Ela defende que não. Que é ele que deve arrumar tudo. Até porque ela sofre muito das costas. E de qualquer forma é uma questão de princípio. Por causa disto já trocaram algumas impressões. Ao que parece, ele foi muito ordinário.
Entretanto, apareceu a chefe de ambos. Que quis saber do que se tratava. Quando D. Amélia começou a tentar explicar, a chefe mandou-a acalmar-se. Do género, “oh mulher cale-se que eu não suporto a sua voz”. E foi-se embora sem resolver a situação.
Eu ia a passar perto de tudo isto um pouco depois de tudo já ter acontecido. E vi D. Amélia a chorar. Perguntei-lhe se estava bem de saúde. Apesar das dores nas costas, que no momento se percebia que não sentia, estava bem de saúde. Era aquele problema. E contou-me.
Conclui que a D. Amélia não foi bem atendida pela chefe por ser uma espécie de serviçal. Que usa uma bata que é uma farda. E está sempre a perguntar se as pessoas querem cafezinho. E a limpar as mesas depois do encerramento dos trabalhos. Além de que ganha menos do que o rapaz. Já ele não usa farda e anda sempre de um lado para o outro a entregar correio, águas, pastas e dossiers. Entre ele e D. Amélia instalou-se uma espécie de hierarquia. Que ele interiorizou e ela não aceita. Mas que a chefe acha muito bem. Uma hierarquia na base da pirâmide.
No seu trabalho D. Amélia é prejudicada em razão do sexo, instrução, situação económica e condição social.
Em qualquer circunstância, todos nós somos privilegiados, beneficiados, prejudicados, privados de qualquer direito ou isentos de qualquer dever em razão de alguma ou mais do que uma das razões inscritas no n.º 2 do artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa.