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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAIXA VAZIA


Tita

04.09.12

 

 

Por causa do plafond para pagamento com cartão de débito imposto agora como novidade da reentré pelo Pingo Doce, resolvi deixar de lá ir fazer todas as compras superiores a 20 €, as muito superiores e também as outras, como era meu hábito. De reserva ficou apenas a ideia de excecionalmente poder comprar café e chocolate preto da marca deles, embora contrariada. Mas são produtos que por isso mesmo, por serem da marca deles, não existem em mais lado nenhum. Nada a fazer. Acreditei.

 

Então hoje lá fui eu decidida. Levantava dinheiro na caixa de Multibanco que existe dentro do supermercado e comprava o meu chocolatinho preferido. E… bom, eu que sofro um bocadinho de fobia social, fui logo apanhando um susto com o ambiente de feira que se agitava logo que as portas se abriam de par em par. Aquilo era cartazes gigantescos com apelos às promoções mais extraordinárias e as caixas cheias de gente a querer pagar. Com dinheiro ou multibanco. Não sei. Foi ainda desagradavelmente envolvida nesta (im)pressão inicial que me dispus então a levantar dinheiro.

 

E lá está. Não havia. A caixa não tinha dinheiro. Só podíamos pagar contas, pedir cheques e assim. Levantar dinheiro não. E lá está também: numa fração de segundo passou-me pela cabeça inventar coisas para comprar só para gastar 20€ e poder assim levar o meu chocolate para casa. Claro que não fiz nada disso e resolvi ir a um multibanco na rua. Depois voltava.

 

Como a caixa mais próxima não era assim tão próxima como isso, tive tempo para pensar que aquele número poderia muito bem ser propositado. Tanto que eu quase caio dele abaixo. Comecei a refletir. “Mas como é que me passou pela cabeça comprar o que não queria só para não ter que sair dali”? A ideia de que o Pingo Doce afinal o que quer é gente a pagar com multibanco desde que gaste acima de uma determinada quantia agoniou-me. Neste caso as taxas pagas aos bancos já não importam. Então e porquê?

 

Fui a outro supermercado mesmo ao pé comprar chocolate preto Nestlé.  Paguei com cartão.

 

É de esclarecer que a decisão do Pingo Doce em não aceitar o pagamento de compras de valor inferior a 20€ através de cartão de multibanco não é ilegal. Antes pelo contrário, cabe dentro dos poderes do vendedor quando realiza uma oferta ao público de bens, nos termos designadamente do artigo 230.º do Código Civil. Porém, o direito não se confunde com a moral. Assim, o que é legal pode muito bem ser, como é no caso, imoral.

 

OS ESTUDOS DO MERCEEIRO


Tita

31.08.12



Não é obviamente o alegado diferendo com os bancos sobre taxas que motiva Alexandre Soares dos Santos a impor o limite minimo de 20 € em compras no seu Pingo Doce para quem pretenda pagar com multibanco. O que o merceeiro quer é forçar a subida das compras abaixo daquele valor. Ou dito de outra maneira, implementar um estratagema de aumentar as vendas. Há certamente um estudo que lhe foi apresentado para provar que uma coisa está ligada à outra. Eu acredito nisto. É que, mesmo  sem ler tal estudo, surge intuitivo que é mesmo assim.

 

Portanto,  não é tão interessante ir lá para as caixas de cartão em riste insistir na ilegalidade da exigência como deixar simplesmente de comprar a maior parte das coisas no Pingo Doce. Se a maioria dos cidadãos deste país fizesse isto Alexandre Soares dos Santos, o oportunista, receberia uma resposta à cidadão. Que lhe faz tanta falta.

 

PINGO DOCE: TAMBÉM POSSO DIZER UMA COISINHA?


Tita

06.05.12

 

 

Foi estranha a sensação de ir na sexta ao Pingo Doce. Acabei por trazer mais coisas do que queria. Esqueci-me em casa do carrinho com rodas que eles lá me venderam há uns meses e tive que atravessar a rua cheia de sacos na mão. Ia pesadíssima quando me dei conta que estava a sentir-me vexada. De facto, notei a sensação de que tinha ido comprar a mais por metade do preço, o que, forçava-me a recordar a todo instante, não era verdade. Nestas circunstâncias, parece-me que talvez o Pingo Doce se tenha metido numa má campanha de imagem. Agora está conotado como o supermercado dos pobres esfomeados e ordinários. Com aqueles que lá foram aproveitar a promoção do 1 de Maio. Agora talvez o Pingo Doce tenha menos caché do que o próprio Mini Preço. E agora? Não sei se isto é bom ou mau para a organização. Sei apenas que me parece que é assim.

 

Quem ler o que antecede há-de pensar que me sinto muito superior aos outros. Os que, como eu, querem comprar o que puderem com 50% de desconto, desde que tenham no mínimo 100€ para gastar. Quem no dia 1 de um mês tem 100€ para gastar num dia de supermercado, ainda que esteja a pensar comprar para o mês, pertence à classe média portuguesa. À parte dela estão alguns, uns poucos milhares, muito bem instalados na vida e outros, que correspondem a cerca de 26% da população, que estão no limiar da pobreza. Nem estes nem aqueles se incomodaram sequer a pensar na promoção do Dia do Trabalhador. Só a classe média. Aquele grupo de pessoas a quem dava muito jeito comprar tudo por metade. E dentro desta classe média nem todos lá foram. Não foram mas queriam.

 

Não foram porque não puderam. E muitos não puderam nem que seja pelo pudor de evidenciar a necessidade. Se tivessem ido também tinham perdido as estribeiras. Porque costumam ser assim as reações individuais quando integradas em certo tipo de eventos coletivos desordenados.  

 

Eu não fui porque não poderia enfrentar tantas pessoas, tanto barrulho, tanta energia (negativa) consumista. Tanta humanidade. Não fui porque talvez nem conseguisse  entrar. Não fui porque não fui. Porque dentro da classe média ainda vão subsistindo alguns degraus. Mas tenho muita pena de não ter podido comprar por metade o que na sexta me custou afinal o dobro da terça anterior. E é isto que me faz ver porque me impressionam tanto aquelas imagens. Porque de alguma forma me revejo nas pessoas que foram protagonistas do evento e serviram de carne para canhão nos noticiários em prime time. E revendo-me não gosto do que vejo. Quem na classe média onde me incluo mais despudoradamente demonstrou vergonha alheia pelas “cenas que os outros fizeram” é quem mais e melhor se identifica com eles. E tem horror do que é. Ora disto é que eu tenho muita vergonha.

 

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