Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

AZUL - Cap XXVI


Tita

23.09.16

 

A manhã já ia a meio e Clara não aparecia. Ligou-lhe por diversas vezes e deixou-lhe mensagens sem fim. Não respondia. Há muito que a angústia lhe perfurava o peito. O estômago revoltava-se. Principiava a sentir náuseas e as consequentes dores de cabeça. Dirigiu-se ao bar para tomar uma água com gás.

Madalena: Olá.

Joana estava demasiado absorvida para ouvir.

Madalena: Joana. Olá…

Finalmente Joana virou-se para o som e abriu melhor os olhos.

Joana: Olá, Madalena. Como vais?

Madalena: Estou ótima. Ainda bem que te apanho aqui fora das aulas. Nunca mais falámos a sós. E eu precisava de falar contigo a sós. Tenho andado preocupada contigo.

Joana: Preocupada comigo. Porquê?

Joana conseguia perfeitamente antecipar as preocupações de Madalena.

Joana: Está bem. É capaz de ser bom falarmos um bocadinho a sós. Mas hoje não. Não estou muito bem-disposta. Vou para aquela mesa. Se quiseres, podes sentar-te ao pé de mim. Gosto sempre da tua companhia. Mas conversar, não.

Madalena: Está bem.

Sentaram-se.

Madalena: De qualquer forma, eu só queria saber se tu estás bem depois do que aconteceu entre nós.

Joana: Madalena, eu estou bem. Nem sequer estou magoada contigo. Mas, como te disse, não estou muito bem-disposta para falar.

Madalena: O que se passa estás doente?

Joana: Dói-me a cabeça.

Madalena: Queres uma Aspirina?

Joana: Obrigada.

Madalena: Como disse estou preocupada contigo. Com o que aconteceu. A forma rude como te deixei.

Joana: Estás a ser insistente. Mas está bem, eu respondo-te. Está tudo ultrapassado. Claro que foste fria e egoísta. Claro que o meu ego se amachucou. Mas é tudo natural. Tu nunca me enganaste. E eu também não estava apaixonada por ti. Apenas te desejava.

Madalena: E já não desejas?

Joana: Conheci outra pessoa. De repente, tudo se alterou em mim. A minha estória contigo já não me importa.

Madalena: Nem a rejeição?

Joana: Madalena, eu não tenho essa cabeça. Quero lá saber da rejeição. Levei uma tampa. Está dada. Não haveria de ficar presa a ti por causa de uma parvoíce dessas.

Agora Madalena sentia a sua vaidade atingida. Nunca desejara que Joana sofresse. Mas também nunca imaginou que pudesse ser tão facilmente descartada.

Madalena: Fico muito contente por ti. Mas não deixa de ser verdade que me estás a dar uma pancadinha no ego.

Joana: Olha, não tem nada a ver contigo. Continuo a pensar que és muito atraente. Mas é o meu novo amor. Sim. É um amor.  Não tenho espaço para mais nada. Se ela não tivesse surgido, talvez eu ainda estivesse a pensar em ti como uma jovem idiota que também sou. Mas isso agora já não faz sentido nenhum.

Madalena foi sincera.

Madalena: Estou aliviada. Gosto muito de ti.

Joana: Eu também gosto muito de ti.

Madalena: Mas conta-me. Quem é ela? É aqui da faculdade? Como foi que aconteceu?

Joana: É da minha turma. Na verdade, tu sabes quem é. Aconteceu tudo de uma forma muito inesperada. Nem sei explicar-te. Mas, para o que importa, estou completamente apaixonada por ela.

Madalena sentiu o corpo a gelar por partes.

Madalena: Eu sei quem é?

Joana: Sim. É a Clara, aquela colega de turma. Falei-te dela.

Madalena: Sem dúvida.

De facto, não havia dúvida. E agora?

Joana: E tu. Como estás com o teu amor antigo?

Madalena: Como?

Joana: Sim, com aquela mulher do teu passado com quem foste para a cama.

Madalena: Estou como tu, muito apaixonada. Mas não estou como tu. Não a amo.

Madalena ia respondendo sem dar muita atenção ao que dizia. Tinha os pensamentos tomados por Teresa. “Como vai ser isto agora?”

Joana: Acho isso estranho.

Madalena: É porque ainda és muito jovem. Não ligues.

Joana: tenho de ir.

Madalena: Eu também. Ela está à tua espera?

Joana: Olha, eu é que tenho estado à espera dela toda a manhã. Só que ela não aparece nem me diz nada. Portanto, tenho que ir à procura dela. Beijinhos.

Joana afastou-se enquanto Madalena ficou quedada cheia de frio. “E se a Teresa já lhe contou? E se a miúda for como a mãe, e resolveu contar primeiro?”. Fechou as golas do casaco para se tentar reconfortar. “Não. Não aconteceu nada disso. Mas aconteceu qualquer coisa para a miúda ter faltado às aulas. Enfim não sei”. Em relação a Teresa, Madalena sabia bem era de química. Previa alterações químicas.  

 

AZUL - Cap XXII


Tita

21.09.16

Madalena: Entra.

Teresa entrou. Deu dois passos. E estacou à frente dela. Fez menção de dizer qualquer coisa. Porém, Madalena puxou-a pela mão com calma.

Madalena: Vamos para dentro.

Para o quarto. Iam par o quarto. Teresa foi obediente.

Madalena: Despe-te.

Teresa principiou a tirar a roupa. Muito devagar e em silêncio. Havia uma luz fraca de tom alaranjado que incidia sobre a parede junto à cama. E que dava saliência às sombras, projetando-lhes os movimentos. Porque Já era noite. A cama estava aberta. Mas perfeita. Tudo tinha sido preparado. Madalena despia-se também. Em silêncio. Concentradas no que faziam, abstraiam-se uma da outra. No fim, olharam-se fixamente nos olhos alheadas da nudez que lhes envolvia os corpos. Estavam muito sérias. Depois movimentaram-se em direção à cama. Deitaram-se. O beijo foi demasiado longo. Por isso apaziguou a paixão. A saliva que se misturou atuou como uma droga potente. E as pernas ficaram dormentes. E as mãos afrouxaram pela falta de força nos braços. Ficaram lado a lado e pregaram os olhos no teto. Sem falar. Num movimento aguardado, deram as mãos.

Madalena: Estive o dia todo à tua espera. Só para ficar assim contigo.

Teresa: Hoje também quero assim.

Madalena: Sabia que vinhas.

Teresa: Claro que sabias. Tu sabes a forma perfeita de como eu te quero.

Madalena: Não. Por acaso isso não sei. Nem sei a forma perfeita de como eu te quero. Apenas conheço as fórmulas da nossa química atual. Por isso não temi que não aparecesses hoje.

Teresa: Também porque eu tenho vindo sempre.

Madalena: Sim. Tens vindo sempre. Por causa da química, como disse.

Teresa: E não temes? Eu temo.

Madalena: Não temas. Eu, atualmente, não posso ir a mais lado nenhum.

Teresa: E depois?

Madalena: Depois não sei.

Teresa: Mas eu creio que já sei.

Madalena: Não. Estás só confundida. A paixão faz isso.

Teresa: A paixão parece que é amor?

Madalena: Sim.

Teresa: Mas se eu nunca deixei de te amar.

Madalena: Isso não é possível. Porque eu deixei de te amar.

Teresa: Isso não é verdade. A verdade é que tens medo de mim. Não acreditas em mim.

Madalena: Não acredito, claro. Mas deixei de te amar.

Teresa: Porque perdeste a inocência. Eu não perdi a minha.

Madalena: Pois não. Os maiores tormentos foram os meus.

Teresa: Já sabemos isso. Não vamos descer outra vez do céu ao inferno. Hoje não.

Madalena: Não. Hoje não. Estive cansada até agora. Precisava de descansar em ti.

Teresa: O que te cansou?

Madalena: Tu sabes. Tudo. Tudo nos cansa. Tudo é mais difícil de fazer. Tudo o que não tenha a ver contigo. Sei que sentes o mesmo.

Teresa: Tu pareces saber tudo o que eu sinto e penso.

Madalena: É da experiência, querida.

Teresa: É da química.

Madalena: Quem disse isso fui eu.

Teresa: Eu aprendo depressa, querida.

Madalena: Ao contrário. Tu não aprendes de todo. Andas há vinte anos para aprender sobre ti própria, sobre quem és. E ainda não sabes de nada.

Teresa: Enganas-te. E tanto te enganas, que vou contar à Clara sobre nós.

Madalena ergueu-se.

Madalena: Lá vem o disparate.

Teresa: Pronto. Lá se estragou o momento.

Madalena: Pois claro. Tu és especialista em criar infernos. Para que vis dizer à miúda?

Teresa: Eu não posso continuar a mentir à minha filha. Tu podes não estar certa do que sentes. Eu sei o que quero. Quero-te.

Madalena: Queres viver comigo?

Teresa: Não. Isso ainda não sei se quero. Isso sei que tu não queres. Porque, afinal, não me amas. Agora, tenho a certeza de que isto não vai acabar tão cedo. E não posso continuar a mentir à minha filha. A nossa relação não é assim. Na nossa relação não há mentiras.

Madalena: Teresa, lembras-te que ela é amiga da Joana? A tua filha deve saber da minha estória com a Joana. A Clara deve saber perfeitamente quem eu sou. Como é que ela vai conceber que a sua própria mãe anda agora com a ex-namorada da amiga? Olha, Teresa, esquece essa ideia. Deixa a tua filha em paz. Anda, veste-te. Vamos jantar.

stats

What I Am

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub