AZUL Cap XXXII
Cat2007
26.09.16
Madalena: Não me apetece sair daqui. És tão quente. E lá fora faz tanto frio.
Teresa: Não temos que ir já. Mas temos mesmo que ir.
Madalena: E tem mesmo que ser a Sintra? É longe, querida.
Teresa: No meio daquela serra sente-se uma energia única. Positiva. Uma pessoa sente-se bem lá. Acalma os nervos.
Madalena: Por acaso, é verdade. Mas não me apetecia nada ir. Ficávamos aqui na cama e…
Teresa: Nem pensar. Levanta-te.
Teresa saltou da cama.
Madalena ficou irritada
Madalena: Olha lá, não vais aparecer o dia todo à tua filha? Passaste cá a noite. Não achas que ela vai estranhar, por acaso?
Teresa: Não vai estranhar porque pensa que arranjei um dos meus namorados do costume, já te expliquei isso.
Madalena: Um dos teus namorados do costume. Que horror!
Teresa: Seria um horror depois de estar contigo outra vez.
Madalena olhava pelo vidro para a rua relativamente calma. Distraída foi perguntando a Teresa o que queria ela, afinal.
Teresa: Quero dizer que te amo profundamente. Em contas certas, há vinte e dois anos que te amo. É disto e de tudo o que tem a ver com isto que te quero falar.
Madalena: E era preciso irmos para Sintra para me dizeres essas coisas? Querida, tu dizes-me todos os dias que me amas.
Teresa: Para que te estás a armar-te em insensível?
Madalena: Não sou insensível. Apenas não me comovo com as tuas declarações de amor.
Teresa: Eu sei que não és insensível. Todos os dias me dás provas do contrário. No entanto, é espantoso que nunca tenhas dito que me amas. Nem nos momentos mais loucos da nossa paixão, quando está nos meus braços e te perdes de ti… nem aí tu dizes “amo-te Teresa”. O que tu gostas é de dizer “querida”. Como se estivesses numa manobra de engate permanente.
Madalena: Porque tu és a minha querida. E sim, contigo estou numa manobra de engate permanente. Dá-me tesão. Compreendes?
Teresa: Estás a tentar enervar-me.
Madalena: Deixa lá. Vais acalmar quando estivermos envolvidas pela boa energia de Sintra.
Teresa: Agora merecias uma bofetada.
Madalena: Desculpa. Sei que estou a ser imbecil. Mas venho contrariada. O que queres?
Teresa: Quero que fales comigo como uma adulta.
Madalena: Eu sei bem o que tu queres. Queres ligar-nos à terra. Mas eu não quero. Estou bem como estou. Trabalho na tese durante o dia, estou contigo ao fim da tarde e muitas vezes passamos a noite juntas também. De permeio dou as minhas aulas. Não desejo mais nada. Está tudo perfeito.
Teresa: E ligar-nos à terra significa o quê, para ti?
Madalena: Significa que tu queres alterar as coisas. Não sei muito bem em que sentido. Mas queres.
Teresa: É preciso clarificar os sentimentos. Ninguém vive assim pra sempre.
Madalena: E quem te disse que eu te queria para sempre?
Teresa: Acaba já com esse teatro! Eu sei que me amas. Sei muito bem que me amas.
Madalena: Não, Teresa. Não te amo. Há vinte anos que não te amo.