Hoje foi uma noite estranha. Porque acordei a meio. Tive um sonho muito vivo. Mas não me lembro de nada. Sei apenas que tratava de coisas que fazem bem ao ego porque acordei com essa impressão. Porém, o sentimento foi de que estivera a vivenciar um pesadelo. Daí parte da estranheza.
Se digo vivenciar é porque creio que é inegável que as experiências sonhadas são experiências. Por isso pode dizer-se que são factos vivenciados. Enfim, não sei se estou a fazer sentido.
Seja como for, a minha terapeuta esclareceu-me, em tempos, que existe e é muito respeitável aquela coisa da interpretação dos sonhos. Ela faz. Ela e os colegas dela. Apenas, comigo a coisa não resulta porque nunca me lembro de nada.
Certa vez consegui, no entanto, levar-lhe umas ideias. Confesso que, porém, não gostei da experiência interpretativa. É que uma pessoa sonha umas coisas que depois não têm nada a ver com o respetivo significado. Normalmente, tudo está relacionado com as dificuldades ou com os anseios, presentes ou passados, da vida vivida de olhos abertos. Sonhe-se o que se sonhar.
Certa vez sonhei que era uma cientista, tendo desenvolvido umas fórmulas matemáticas inovadoras na minha cabeça, as quais, lá está, esqueci no momento em que acordei. Claro que as tais fórmulas deviam ser uns perfeitos disparates mas, para o que importa, a sensação de ser um génio com que fiquei ao acordar, esbarrou imediatamente com a realidade da minha mediania, que bebi, logo que tomei consciência dos elementos matérias que compõem o meu quarto.
Não obstante, tenho uma opinião não técnica e não fundamentada sobre os sonhos. Creio que os sonhos são uma segunda oportunidade de viver. Ou melhor. São outra vida vivida, como referi. Quer dizer, é como se tivéssemos duas vidas. Uma de dia e outra à noite enquanto dormimos. Creio que toda a gente sonha todos os dias. Mesmo que não tenha consciência disso. As experiências sonhadas, umas triviais, outras absurdas, outras mágicas e ainda outras assustadoras, são o conteúdo da nossa vida noturna que parece ser muito mais ampla, abrangente e liberta do que a nossa vida diurna. Ou seja, dormir só é descansar para alguns efeitos.
A ideia que acabo de expor é simples e não traz nada de novo. Como, de resto, este texto não trás. Perdi-me aqui em divagações a propósito dos sonhos porque hoje sonhei tanto que acordei a meio da noite. Até tive que fumar um cigarro, tendo em vista dar tempo para não reentrar no sonho. Só depois de uma meia hora é que voltei a adormecer. Graças a Deus.
A principal questão é que, pela manhã, estava com uma dor de cabeça chata que me apanhava mesmo por cima da mesma. Até tive algumas breves tonturas. E tudo isto afetou a minha disposição para o dia. Mas diga-se que não fiquei irascível. Apenas um tanto apática. Também me notei um bocadinho impaciente de uma forma surda.