TESTAR NEGATIVO
Cat2007
28.10.20
Fiz o teste ao SARS CoV-2. Deu negativo. Sucede que agora estou muito mais preocupada do que estava antes. Também porque me descreveram como é estar doente de COVID – 19. Uma pessoa pode morrer. O meu irmão esteve internado no Curry Cabral. Débito de oxigénio e, por via disso, coração a bater fraco. Foram vários dias assim. Agora já saiu. E está todo “queimado” da cabeça. Disse-me que foi muito bem tratado. Que aquelas pessoas que ali estão (médicos, enfermeiros e auxiliares) mereciam ganhar o triplo. Não lhe faltaram com nada. Cuidados de atenção permanente e mesmo até ternura. O meu irmão é novo. Alto. Forte. Mas ia morrendo. Agora está traumatizado. Sente ansiedade. Sobretudo quando sai à rua. Embora tenha estado num quarto de isolamento, não chegou (por muito pouco) a dar entrada nos cuidados intensivos para lhe aplicarem o famigerado ventilador. Disse-me que todos os dias olhava para a porta do quarto. Todas as manhãs. A pensar “é hoje que vou para lá”. Tentava comer devagar e pouco porque tinha medo de sufocar. Também dormia com uma garrafa de água junto ao corpo. Era para beber quando se sentia mais ansioso. Não sei bem porquê. Foi possível falar com ele todos os dias pelo telemóvel. Mas não se percebia muito bem o que dizia por causa do estado frágil e da máscara de oxigénio. Liguei regularmente para os médicos e enfermeiros que o assistiam. Espantei-me com a facilidade em obter ligação e também, sobretudo, com a capacidade que aquelas pessoas tinham de ser atenciosas e esclarecedoras. Não é comum. No entanto, talvez seja se estamos num contexto destes. Mesmo assim, não cheguei a perceber plenamente a gravidade da situação dele. Só sei que um dia desatei a chorar desesperadamente. O meu irmão sentiu na pele que, pelo menos na área da doença COVID-19, o SNS está a funcionar.