TRANSPARÊNCIAS
Cat2007
11.09.22
Na maior parte dos casos, não me sucede entrar onde quer que seja se prevejo com clareza que não vou lá ficar. Já por isso, quando tenho a certeza de que não é para comprar nada, fico apenas a observar as montras pelo tempo que levo a chegar a esta conclusão. No entanto, existem lugares que não dizem tudo nas vitrines. Nestes casos, tenho mesmo de entrar para procurar o que busco. E até pode ser que encontre igualmente o que não imaginava querer, mas que, afinal, quero também. Ficar é estar pelo tempo necessário para cumprir um objetivo. Quando temos mesmo muita sorte, podemos ficar a vida toda. E, assim, chegamos finalmente ao ponto de partida pretendido. Ao momento em que começamos a aprender sobre aquilo que intuímos que realmente nos importa. No caso das pessoas, os olhos são as vitrines. Para mim são. Definitivamente. Se não vejo nada que me interesse num olhar, não entro. Nem que seja apenas para ver se um blazer me fica mesmo bem. Há casacos que podem ser bonitos, mas que, embora eventualmente me assentem, não são definitivamente o meu estilo. Sucede que, às vezes, não tenho a certeza. Sobretudo nas fases da vida em que, por um motivo ou outro, possa, ainda que momentaneamente, estar um bocadinho confusa sobre a imagem que desejo assumir como minha. É tão difícil escolher roupa assim.
Para mim tem sido importante apresentar-me aos outros com o aspeto mais próximo possível daquilo que sou. Ocorre-me, porém, se isto não será um defeito. Isto da transparência. Um defeito é apenas uma característica pessoal qualquer que nos “lixa”. É, de facto, verdade que não se pode ser transparente em todas as circunstâncias. Há alturas em que uma pessoa, embora honesta, tem de ir aparecendo devagarinho, representando. Embora sabendo disto, eu, porque sempre tive coragem e sou bastante impaciente, nas situações de incerteza, fui escolhendo “dar o corpo às balas”: entrar nas lojas sem grandes certezas se o que vou comprar é mesmo aquilo que se me adequa, mas adquirir ainda assim. Se não for a coisa certa, levo muito menos tempo a perceber o facto e mudo de estrada. Enfim, disponho-me a pagar caro para não perder muito tempo na vida com equívocos. Claro que, por causa disto, pode suceder-me acabar por ficar mesmo sem dinheiro. É aqui que não tenho outra alternativa senão pedir auxílio… a Deus. Não o faço frequentemente porque, felizmente, durante a vida, fui tendo quase sempre “o pão nosso de cada dia” e foi possível livrar-me senão da dor, ao menos do “mal”.